Viver
Palavra de honra | “Sinto vergonha de todas as formas de exclusão e segregação”
arquitecto urbanista
Já não há paciência… para o atrevimento e intolerância que vem com a ignorância, para a complacência que mascara a irresponsabilidade e a maldade. (Para mim, compreender não significa aceitar e desculpar não significa esquecer e a paciência, elástica que seja, não é sem limites.)
Detesto... a condescendência, o paternalismo e os juízos precipitados, bróculos cozidos, favas guisadas e alguns formatos da lua.
A ideia... de comunidades verdadeiramente livres e diversas, em si e entre si, é talvez a mais bela das ideias - venha ela com o atrito que nos permita dançar e abraçar a imperfeição.
Questiono-me se... um dia se conseguirá aprender com o passado e ser consequente com a sua leitura – bem sei que dos factos e números abstratos da história à experiência vivida vai uma longa elipse, mas ainda acredito na razão (ainda?).
Adoro... a praia e o mar, regressar a casa de cada vez, as estações do ano e a possibilidade de, quando estou perdido, me surpreender (com as pessoas e com os lugares).
Lembro-me tantas vezes... do passado, da minha infância tão banal e ainda assim tão rica, das pessoas que foram partindo, em particular da minha avó Susana. Também dos erros próprios.
Desejo secretamente... ter tempo para me preparar para o espanto da morte, dos outros e da minha – ou talvez apenas, de viver o suficiente, para me divertir e maravilhar ainda mais com o mundo.
Tenho saudades... dos dias de sol, de mergulhar no mar e das pessoas de quem gosto, mais como expectativa do que nostalgia; não sou muito bom a ressignificar o passado, por isso, são poucas e de coisas próximas as saudades – como ao retrovisor, “objets in mirror are closer than they appear”.
O medo que tive… e tenho de perder a paciência e de cair, por circunstâncias que me são estranhas, em desgraça (como parece hoje ser tão fácil); vale para mim e para os que me são queridos. Também tenho medo me dissolver.
Sinto vergonha alheia... de todas as formas de exclusão e segregação, em particular pelos que tendo tido oportunidades que não tive e as responsabilidades que escolheram ter, se tornaram insensíveis ao sofrimento e às alegrias dos outros. Dos que sendo privilegiados sem mérito próprio o entendem como um direito natural.
O futuro... para já, parece sombrio. (Sei, no entanto, que a realidade, mais rica do que conseguiremos alguma vez conceber, ultrapassa sempre a ficção que é o futuro: por um lado ou pelo outro.)
Se eu encontrar... encontrei. Farei disso o melhor que souber.
Prometo... tentar não prometer nada enquanto não estiver seguro das promessas que pretendo ainda fazer.
Tenho orgulho... no meu pai, na minha mãe, que me deram a possibilidade de ser, e em cada um dos meus amigos, que me trouxeram a possibilidade de viver.