Sociedade

Pinheiro da Casa do Pinheiro Manso foi removido por questões de segurança

2 ago 2021 15:04

Símbolo local, “pela sua forma particular, fruto do seu esforço de sobrevivência”

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Após o furacão Leslie, a árvore terá ficado danificada, porém, viva
DR
Jacinto Silva Duro com MAS

A Casa do Pinheiro Manso é um dos locais mais conhecidos da praia de São Pedro de Moel, no concelho da Marinha Grande, e a 23 de Junho fez parte de um lote para atribuição dos direitos de exploração de 16 imóveis que se encontram afectos ao Fundo Revive Natureza.

Um mês depois, o pinheiro-manso, que lhe dava nome, foi retirado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), após uma vistoria efectuada por técnicos do ICNF e pelo arquitecto da Câmara Municipal da Marinha Grande.

A remoção da icónica árvore levou ao descontentamento e contestação de habitantes locais e de visitantes, que consideram que foi destruído um “símbolo ímpar da identidade local”, “pela sua forma particular, fruto do seu esforço de sobrevivência, em condições tão adversas e idade”, e razão de baptismo do imóvel.

Frederico Barosa foi dos primeiros a verbalizar a contestação, não apenas por causa desta árvore em específico, mas pela ideia que ela representa da concepção que os cidadãos têm do impacto delas na nossa vida. 

Fez uma publicação nas redes sociais, que se tornou viral, e que é uma espécie de olhar para o pinheiro e ver o pinhal.

"Quis chamar a atenção para o património natural que é cortado pelas autoridades e para o facto de que muitos dos pinheiros que existiam no espaço público, em São Pedro de Moel, e não só, foram cortados por esta ou aquela razão, mas não foram plantadas árvores para as substituir", explica, adiantando que vê ironia no facto de a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, ter ido especificamente à Casa do Pinheiro Manso anunciar o Fundo Revive Natureza e, a seguir, o pinheiro ter sido cortado. "São Pedro de Moel, sem os pinheiros, deixa de existir!"

Contactado pelo JORNAL DE LEIRIA, o ICNF esclarece que, em Outubro de 2018, o pinheiro foi partido pelo furacão Leslie, “a cerca de três metros de altura do seu fuste, tendo parte da copa ficado” tombada e apoiada “sobre o anexo da referida casa.”

Mesmo partida, a árvore continuou viva, pois continuou a verificar-se a circulação de seiva pela parte não danificada.

O ICNF refere que, de lá até recentemente, foram realizadas algumas intervenções, contudo, após uma visita dos técnicos da autarquia e do instituto, em conjunto com potenciais interessados na casa, no âmbito do Fundo Revive, constatou-se que o pinheiro-manso se encontrava totalmente seco, tendo sido solicitado ao ICNF, por questões de segurança, a remoção da árvore morta.

“Confirmando-se nada mais poder ser feito pela referida árvore, o ICNF tomou a iniciativa de a remover juntamente com todos os resíduos associados”, resume o organismo público. 

Frederico Barosa defende a criação, em todos o País e em todos os municípios de um regulamento para o abate de árvores, com registo obrigatório das razões que levam ao seu corte, para evitar situações de descontentamento e protestos dos cidadãos. 

Curiosamente esta mesma medida foi mesmo aprovada no Parlamento no mês passado.

No dia 22 de Julho, foi aprovada por maioria, com os votos contra do PCP e a abstenção do Chega e da IL, visando melhorar a gestão e a protecção do arvoredo em meio urbano 

O diploma contempla aspectos como a criação de um regime jurídico de protecção de arvoredo urbano e a obrigatoriedade de as autarquias criarem regulamentos municipais para o abate de árvores.

As regras aplicam-se ao "arvoredo urbano integrante do domínio público municipal e do domínio privado do município e ao património arbóreo do Estado, regulando operações de poda, transplantes, critérios para abate e de seleção de espécies a plantar, estabelecendo uma hierarquização".

Os municípios têm de elaborar e aprovar, no prazo de um ano, um regulamento municipal de gestão do arvoredo em meio urbano que inclua "as regras técnicas e operacionais específicas para a preservação, conservação e fomento do arvoredo em meio urbano".

Foto: Frederico Barosa