Autárquicas 2025
Pombal: Num concelho assumidamente laranja, candidatos disputam um lugar no executivo
Em duas horas de debate, expuseram-se as principais ideias das oito candidaturas, todas elas com foco transversal em áreas como o Ambiente, Economia ou Habitação

As sondagens valem o que valem, diz-se na rua, mas, em Pombal, a luta faz-se no dia-a-dia com os candidatos a lutar por um lugar no executivo.
No debate promovido pelo JORNAL DE LEIRIA, esta sexta-feira, os sete candidatos apostados em retirar o lugar a Pedro Pimpão (PSD) apontaram falhas às decisões tomadas nos últimos quatro anos, apesar de, por vezes, haver espaço para o reconhecimento do trabalho feito, enquanto o actual presidente de câmara se escudou na apresentação de resultados e investimentos atraídos para o território.
Ditou o sorteio que fosse Pedro Pimpão (PSD) a dar início à ronda de intervenções, onde defendeu que está rodeado de “pessoas motivadas” para continuar o projecto político iniciado há quatro anos.
Com uma equipa renovada, onde somente Isabel Marto mantém a sua posição, o social-democrata mostrou confiança na lista apresentada que, em caso de vitória (sondagem do JORNAL DE LEIRIA dá maioria absoluta ao PSD), beneficiará de um pedido de empréstimo de 9,8 milhões de euros, contratualizado em Julho deste ano.
“A equipa que apresento à câmara é fruto de um conjunto de pessoas que estão envolvidas nas dinâmicas locais, pessoas que são conhecedoras dos vários desafios que temos pela frente”, garantiu, acrescentando que tem em concretização “cerca de 92%” das 286 medidas incluídas na Agenda para a Década, documento apresentado no arranque do mandato.
Já Fernando Matos (PS) esgrimiu contra os argumentos apresentados por Pedro Pimpão com dados estatísticos em diversas áreas, sublinhando o baixo número de candidaturas aprovadas para a habitação acessível. "Apenas dois projecto aprovados", fez notar, confrontando o candidato social-democrata.
A intervenção inicial deste médico debruçou-se sobre a proposta de criação de um banco municipal de solos e imóveis devolutos. “Pensamos que o município deverá avançar para um investimento próprio, a par da mobilização da capacidade da iniciativa privada e das cooperativas de habitação de construção”. “É evidente que o actual executivo camarário é, de algum modo, responsável pela inércia que existe na habitação”, acrescentou.
A palavra passou para Manuel Serra (CH),com uma vida política ligada ao PSD, tendo-se desfiliado do partido para ingressar no partido Chega. Após a desistência de Gabriel Mithá Ribeiro, assumiu o primeiro lugar da candidatura à Câmara de Pombal e esclareceu esta mudança de cor política.
“Sou uma pessoa com um pensamento muito independente. Para poder estar hoje neste lugar (...) tenho de desistir de estar noutros”, justificou. Quando recebeu o convite do Chega para, inicialmente, assumir o segundo lugar da lista à câmara, considerou que, com o seu “conhecimento autárquico”, tinha “boa hipótese de influenciar a governação da câmara” e, por iss, explicou, decidiu avançar, com a certeza de que não tem “devoções” nem é “fiel a ninguém”.
Ricardo Santos, da Iniciativa Liberal, começou por esclarecer a visão descentralizadora do partido, que pretende dar mais autonomia às freguesias. “A autonomia, relativamente às freguesias, tem um ponto muito importante: é que as freguesias são o poder autárquico mais próximo das pessoas. Por isso, tudo o que seja passar as decisões para as freguesias, permite que as decisões sejam mais enquadradas com aquilo que é o objectivo”, mencionou.
O candidato da CDU, Egídio Farinha, abordou a área da cultura, para defender a criação de uma escola artística e a dedicação de 1% do orçamento municipal para as artes, considerando serem medidas fundamentais para “os jovens e os mais pequenos”.
Do lado do CDS-PP, Telmo Lopes defendeu a criação de associações de freguesias no concelho, um mecanismo que permite “partilhar recursos, que, muitas vezes, são escassos e caros”. “Se for possível ter esses recursos através da sua partilha entre várias freguesias, escusamos de ter um tractor em cada porta, ou uma roçadora, ou um autocarro”.
Novamente na área da cultura, Célia Cavalheiro, do Bloco de Esquerda, denunciou o que considera a falta de organização de eventos no concelho, com entidades locais. “Temos tido eventos culturais com alguma frequência, alguma qualidade, e o município não organiza de forma correcta e sistemática o investimento nessa mesma cultura.” A candidata referiu ainda que “a maior parte dos espectáculos não chegam ao conhecimento dos pombalenses”.
Quanto a Luís Couto, do Pombal Independentes, começou por defender também uma maior autonomia das freguesias. Reconhecendo que o actual executivo “tentou” dar “alguns passos” nesse sentido, afirmou que o caminho tomado não será “o melhor modelo de descentralização” e, por isso, defende “uma descentralização financeira para as freguesias em termos de capacidade de decisão não técnica”.
Ensino superior: sim ou não?
Convidados a manifestar a opinião sobre a criação de uma escola superior em Pombal, praticamente todos os candidatos mostraram-se favoráveis, embora com soluções distintas.
“Ensino superior, sim, desporto não”, disse Fernando Matos (PS), manifestando a vontade de “consolidar a oferta formativa da ETAP”, com o apoio na expansão da sua área e instalações. “Não nos parece adequado estar a misturar os cursos profissionais da ETAP com cursos de outros níveis”, sublinhou. “Não queremos cursos de nível cinco, queremos cursos de nível seis”, resumiu.
Manuel Serra (CH) reconheceu que “todas as terras que introduziram o ensino superior, evoluíram” e a posição perseguida pela autarquia “está num bom sentido”.
Também a Iniciativa Liberal, a CDU, o CDS-PP e o BE mostraram-se favoráveis ao ensino superior em Pombal, alertando para outras necessidades adjacentes ao projecto. Para Ricardo Santos, a área do desporto não é descabida, uma vez que o concelho mostra-se “bem” na quantidade de clubes e atletas. No entanto, questionou a capacidade de o concelho alojar os estudantes e de dar emprego aos jovens formados, além de dizer “ser preferível” conjugar a oferta formativa do ensino superior com os cursos já oferecidos pela ETAP.
A CDU acredita que “não haveria conflito de interesses” com a ETAP e sugeriu, até, integrar ofertas formativas relacionadas com a área na escola profissional.
Telmo Lopes também se mostrou favorável, contudo, alertou para a necessidade de formar jovens nas áreas da construção civil e florestal. Aproveitou o tema da educação, ainda, para denunciar a “sobrelotação da Escola Secundária de Pombal”, que também Célia Cavalheiro considerou um tema “mais importante e urgente”.
Por sua vez, Luís Couto recordou que Pombal está circundado por duas cidades com um ensino superior de referência, Coimbra e Leiria, e que recebem a maioria dos estudantes pombalenses. Sem dizer directamente que não pretende ensino superior em Pombal, sustentou a ideia de fazer regressar a Pombal os seus jovens, já com, pelo menos, grau de mestrado, em vez de licenciaturas, dando o exemplo do centro de investigação aplicada Biocant, em Cantanhede e o valor acrescentado por ele levado até aquele território. “Não queremos os estudantes de batina, queremos os estudantes depois da batina.” Defendeu ainda a “atracção de investimento de qualidade”.
Para Pedro Pimpão, este projecto “já não tem volta a dar”, uma vez que está a ser terminado “o projecto de execução para o pólo de inovação e conhecimento, onde vai ficar a escola superior, no Casarelo”. Ainda assim, disse não haver "acordo algum" com o Politécnico de Leiria, relativamente à área pedagógica da escola superior.
Habitação
Transversal às candidaturas, a habitação foi debatida entre os candidatos, que reconheceram a necessidade de aumentar a oferta. Manuel Serra (CH) declarou que os “subsídios da Câmara” não são a solução e que deve ser o Estado português a decidir sobre esta matéria, até porque “o problema da habitação resolve-se com bons empregos”.
Ao reconhecer não ter a expectativa de “ser presidente de Câmara neste mandato”, mas, havendo a possibilidade de ser eleito vereador, comprometeu-se, durante esse mandato e sem especificar medidas concretas, a “encontrar soluções que possam ir ao encontro das expectativas e necessidades das pessoas”.
CDU e BE concordaram na necessidade de apoiar famílias carenciadas e na criação de mais habitação social, com rendas a custos controlados. Agravamento do IMI para casas desabitadas, obrigatoriedade de incluir habitação a rendas controladas nas novas habitações ou a mobilização de edifícos públicos devolutos são as propostas apresentadas por Célia Cavalheiro.
Por sua vez, Telmo Lopes (CDS-PP) apontou a celeridade nos processos de licenciamento, propôs tornar as freguesias atractivas para os construtores e aumentar o número de ARU (Áreas de Reabilitação Urbana).
Para a IL, a Câmara Municipal já fez o suficiente no apoio às rendas e é para a construção que deve apontar forças, nomeadamente na criação de “parques de implementação habitacional”, onde a autarquia adquire os terrenos, faz o planeamento e “chama os privados” para efectivarem o projecto.
Neste tema, notaram-se maiores diferenças entre Luís Couto e Pedro Pimpão. O Pombal Independentes olha para “edifícios de colectividades que estão inactivas”, como uma oportunidade de criar habitação para pessoas que, “nos últimos 20 anos, tenham residido pelo menos cinco anos em Pombal”.
Pedro Pimpão descarta esta hipótese, ao referir que prefere “habitação digna, com qualidade”. Neste sector, o social-democrata optou por falar do trabalho feito, com o licenciamento de “2.649 fogos de habitação” ou o lançamento do projecto de apoio ao arrendamento jovem, além dos investimentos para melhorar bairros sociais e criar novas fracções.
Nesta área, o candidato do PS questionou o actual presidente de Câmara sobre o número total de candidaturas realizadas no âmbito dos programas do IHRU, onde o município conseguiu luz verde para duas candidaturas.
A necessidade de atrair empresas foi unânime às candidaturas, com o PS e o Pombal Independentes a reconhecer a importância do sector da exploração florestal e agrícola no concelho. Para a IL, a indústria em Pombal deve continuar a automatizar-se para “pagar melhores ordenados” e a CDU considera que “todo o tipo de empresas são bem-vindas” em Pombal, desde que “ordenadamente e com regras”.
Telmo Lopes preferiu defender o investimento na agricultura e alertar para um crescimento das zonas industriais com estratégia, onde a capacidade de tratar os resíduos industriais e de fornecer energia eléctrica são essenciais.
Enquanto Célia Cavalheiro criticou as opções do executivo – “investimos e ficamos à espera dos resultados” – Manuel Serra (CH) sublinhou que não basta disponibilizar terrenos e “estar à espera que os empresários apareçam”, tem de se ir “à procura deles”.
Luís Couto afirmou que a atracção de empresas “não é só negócio imobiliário” e, por isso, propõe o “fomento da agricultura e floresta”, a “criação de um centro de serviços partilhados” no sector terciário e um “fundo de investimento municipal para o apoio a negócios não tecnológicos”.
Pedro Pimpão abordou os projectos em curso, como a ampliação da zona industrial da Guia, com 21 lotes e um custo de 4,5 ME, o pólo dois do Parque Industrial Manuel da Mota, com 30 hectares, ou outros nove hectares na ZI de Albergaria dos Doze.
Para o candidato do PSD, o grande desafio do próximo mandato será a “atracção de empresas e de investimento estruturante que possa dar mão-de-obra qualificada e acrescente valor ao que existe”.
Fernando Matos (PS) deu importância à exploração florestal e defendeu uma associação de desenvolvimento rural.
Todos os candidatos afirmaram como necessidade imediata o saneamento básico em todo concelho e mostraram-se a favor de uma maior fiscalização das explorações de caulinos, defendendo a compensação à natureza e à população pelos danos causados.