Sociedade

Preocupação e uso excessivo de computador agravam doenças do sono na pandemia

19 mar 2021 09:29

Assinala-se hoje, dia 19, o Dia Mundial do Sono. Em tempo de pandemia, a preocupação quanto ao futuro e a crescente dependência dos dispositivos electrónicos, para trabalhar e para estudar, podem agravar as doenças de sono dos portugueses, alertam especialistas

preocupacao-e-uso-excessivo-de-computador-agravam-doencas-do-sono-na-pandemia
Laboratório do Sono funciona no Centro Hospitalar de Leiria desde 2016
Ricardo Graça
Daniela Franco Sousa

A pandemia mudou a vida dos portugueses, é um facto. E mudou- a ao ponto de estar a afectar até o seu sono. Se para alguns o confinamento significou deixar para trás o stress diário associado ao levantar cedo, preparar e levar os filhos à escola e enfrentar longas filas de trânsito para chegar ao trabalho, para muitos outros, a Covid- 19 fez aumentar as preocupações financeiras, o medo de perder o emprego e a insegurança quanto ao futuro.

Em muitos casos, o vírus forçou ainda mais o sedentarismo, a utilização excessiva de computadores e telemóveis, para trabalhar, para estudar e até para socializar, alterando assim as rotinas de descanso de muitos portugueses, que passaram a deitar-se e a levantar-se mais tarde. Além disso, para parte da população, a perda de rendimentos contribuiu para um decréscimo da qualidade da sua alimentação.

Algumas destas condições já estão a piorar a qualidade do sono dos portugueses, mas, alertam os especialistas, a dimensão exacta dos estragos no descanso e na saúde ainda está por aferir.

Se já dormiam mal, passaram a dormir pior

Cláudia Santos é pneumologista e responsável pelo Laboratório do Sono, integrado no serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar de Leiria, onde todos os dias chegam pacientes com diferentes doenças associadas ao sono. Mesmo antes do aparecimento da Covid-19, os portugueses já tinham muitos problemas de saúde relacionados com o sono, explica a médica.

Estudos anteriores à pandemia indicam que cerca de metade da nossa população não dorme bem e tem problemas de sono que vão desde o simples ressonar, passando pela insónia, pelos distúrbios respiratórios do sono, entre outros. “Uma percentagem significativa dos portugueses, cerca de um quinto da população, tem dificuldade em iniciar o sono. O que contribui para que haja no País um grande consumo de ansiolíticos e de hipnóticos, para colmatar a dificuldade em adormecer e em manter o sono”, justifica Cláudia Santos.

“A juntar a todas estas perturbações, muitas pessoas têm também maus hábitos de higiene do sono, como a utilização de dispositivos electrónicos ao deitar”, realça a especialista. “Por isso, embora não haja conclusões oficiais, já que algumas pesquisas ainda estão em curso, acredito que as conclusões futuras serão muito interessantes. Vai ser interessante perceber quanto é que o teletrabalho e as aulas online vão perturbar ainda mais o sono da nossa população, não só a adulta, mas também a infantil e a adolescente”, aponta Cláudia Santos.

“Porque a utilização de dispositivos móveis ao deitar é algo que nós tentamos contrariar, mas que actualmente, face ao número de aulas online, empurram erradamente muitas vezes os trabalhos de casa para horas tardias”, prossegue a pneumologista. Acresce que, para jovens e para menos jovens, o online passou por estes dias a ser a única forma de socialização, frisa Cláudia Santos.

“Portanto, só daqui a algum tempo iremos perceber a dimensão deste impacto no sono dos portugueses”, conclui.

Existem, contudo, várias transformações que a especialista já tem vindo a observar nos pacientes do Laboratório do Sono. “Nas nossas consultas verificamos que, de modo geral, as pessoas aumentaram as suas preocupações. Estão preocupadas quanto ao futuro, por exemplo se vão conservar ou não o emprego. E verificamos

Este conteúdo é exclusivo para assinantes

Sabia que pode ser assinante do JORNAL DE LEIRIA por 5 cêntimos por dia?

Não perca a oportunidade de ter nas suas mãos e sem restrições o retrato diário do que se passa em Leiria. Junte-se a nós e dê o seu apoio ao jornalismo de referência do Jornal de Leiria. Torne-se nosso assinante.

Já é assinante? Inicie aqui
ASSINE JÁ