Sociedade
Projecto da AMITEI ajudou idosos a superar e a prevenir a solidão
Metade dos beneficiários ultrapassaram o sentimento de estar sozinho
"Estava um bocado sozinha. A minha filha sai de manhã e só chega a noite e a minha neta também. Quando apareceu esta menina fiquei muito contente. Precisava de desabafar e depois estava deserta que aparecesse. Fiquei muito triste quando o projecto terminou", disse uma das idosas, na apresentação do balanço do projecto Super@Solidão, desenvolvido durante um ano pela Associação de Solidariedade Social de Marrazes (AMITEI), em Leiria.
Os testemunhos de alguns dos beneficiários do projecto foram unânimes: a sua vida melhorou. "Sentia que estava no fundo do poço. Depois de me começarem a visitar, cada semana sentia-me melhor. Foi um milagre aparecerem estas meninas, foram uns anjinhos”, acrescentou outra idosa.
“Por vezes não temos a quem recorrer para desabafar. Aceitou ouvir as minhas mágoas. Foi pena já ter acabado” ou "foi uma experiência maravilhosa" foram outros elogios apontados por beneficiárias.
O projecto Super@Solidão da contribuiu para diminuir e prevenir o sentimento de solidão em 50 idosos que estão no domicílio. Inicialmente, estava previsto o acompanhamento de 50 idosos da União de Freguesias de Marrazes e Barosa, em Leiria, mas o apoio chegou a 78 pessoas, embora algumas tenham acabado por desistir por diferentes razões.
Com o objectivo de minimizar o sentimento de solidão em 25%, o projecto superou as expectativas, assumiu o coordenador Miguel Mesquita, durante a apresentação do balanço do Super@Solidão.
“Conseguimos diminuir o sentimento de solidão em 50% e o índice das pessoas que iriam possivelmente sofrer de solidão também baixou. Este projeto é também de prevenção para que o sentimento de solidão apareça mais tarde ou nem apareça. Foi um sucesso e creio que é um exemplo piloto que pode ser [re]aplicado”, afirmou o também técnico superior de animação sociocultural da AMITEI,
O apoio foi prestado a pessoas com idades entre os 54 e os 96 anos, maioritariamente do sexo feminino, com a maioria das idades entre os 82 e os 86 anos. Destas, 68% apresentavam sintomas de solidão, revelou Miguel Mesquita, na apresentação dos dados, que se referem a apenas 50 beneficiários.
Durante um ano, uma equipa multidisciplinar acompanhou os idosos intervindo em diferentes áreas, procurando alcançar maior autonomia e melhor qualidade de vida. Foram dadas ferramentas aos beneficiários e aos seus familiares para aprenderem a lidar com a medicação (evitando a polimedicação), controlo da tensão arterial e da diabetes, prevenção de quedas e exercício físico.
“Adaptámos as nossas actividades a cada pessoa de forma individual, para melhorar a qualidade de vida dos mesmos, não só a parte da solidão, mas em vários aspectos da sua vida”, explicou a gerontóloga, Sofia Pedrosa.
A literacia digital serviu não só para aproximar os idosos das novas tecnologias, como para trabalhar a parte cognitiva.
O projecto contemplou ainda uma linha telefónica de atendimento, que funcionou das 9 às 00 horas. “Todas as semanas falávamos pelo telefone. Havia sempre um desabafo ou algo que queriam contar. Servíamos também um pouco como apoio emocional”, acrescentou Sofia Pedrosa.
Miguel Mesquita considerou que o desafio futuro é “manter os idosos nos seus domicílios, mas com maior qualidade de vida, sem serem institucionalizados”.
“Se forem institucionalizados, poder haver este processo de informação e conhecimento que um lar não é só para morrer, não é uma instituição onde não se faz nada e um centro de dia todo ele é vida. Estes estereótipos têm de ser desmistificados”, sublinhou.
Candidatado ao programa Parcerias Para o Impacto do Portugal Inovação Social, Alexandra Neves, representante do centro no Portugal Inovação Social, anunciou que os projectos que só tiveram um ano de execução devido ao fim do Portugal 2020 terão a possibilidade de se voltar a candidatar.
“A nossa vontade é ajudar, intervir e criar autonomia na nossa comunidade, trabalhando também com as crianças e jovens, adultos com adultos. para que voltemos a restabelecer esta rede de apoio tão importante que hoje em dia cada vez mais se perde. Essa é a nossa missão e é esse o trabalho que tentamos fazer diariamente”, não assumindo se haverá uma nova candidatura.
O Super@Solidão teve ainda o apoio de vários parceiros sociais, nomeadamente empresas do concelho de Leiria que se associaram ao projecto e ajudaram a suportar os custos que não foram financiados.