Saúde

Psicóloga Sónia Cardeira publica livro Aceita que dói menos

21 fev 2021 13:02

Natural da Marinha Grande, Sónia Cardeira sofre de doença degenerativa que leva à cegueira.

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Sónia Cardeira trabalha como psicóloga e na área da formação
DR
Maria Anabela Silva

O diagnóstico chegou aos 17 anos, quando Sónia Cardeira ficou a saber a razão porque “tinha tanta dificuldade em fazer coisas que para os outros pareciam tão simples”, como ver um filme numa sala de cinema ou ir à discoteca. A razão chama-se retinopatia (ou retinose) pigmentar, uma doença degenerativa que causa a perda gradual da visão e para a qual não há tratamento.

“Sempre me habitei a ver assim. Como já convivia com a doença há muito tempo, fui arranjando estratégias. Pensava que era assim que as pessoas viam”, conta Sónia Cardeira, formada em psicologia, que acaba de publicar o seu primeiro livro. Chama-se Aceita que dói menos – Em busca do passo seguinte e oferece 58 mensagens “inspiradoras e apaziguadoras”, cada uma com ilustração, da autoria de Célia Brandão. Associado ao livro há também um baralho de cartas, que reproduz as frases e os desenhos.

Trata-se de “um convite a receber o que a vida tem para oferecer, ao mesmo tempo que desvenda outros caminhos e possibilidades”, revela a psicóloga, natural da Marinha Grande e a residir em Pataias, Alcobaça, explicando que esta sua incursão pelo mundo da escrita nasceu do desejo de contribuir para “o bem-estar emocional” de quem o utilizar.

Sónia Cardeira, de 43 anos, conta que o projecto começou a ser delineado há um ano, quando atravessou “um momento difícil”. À semelhaça do que tinha acontecido no final da adolescência, com o diagnóstico da doença e a 'sentença' de que não havia cura, percebeu que, “quando não podemos alterar as coisas, temos de aceitar para seguir em frente”.

E, na óptica de Sónia Cardeira, “aceitar significa receber sem julgar o que não podemos mudar, pelo menos por agora”. Foi, aliás, isso fez quando soube que sofria de retinopatia pigmentar. “Claro que houve revolta e que me interroguei 'porquê eu', mas o diagnóstico ajudou-me a perceber o que aconteceu em determinados momentos, como a primeira vez que fui ao cinema ou à discoteca e não consegui ver nada”, recorda, explicando que a doença começa por provocar a diminuição da visão nocturna (nictalopia) e periférica. Actualmente, Sónia tem apenas 5% de visão.

Formada em Psicologia no Isla de Leiria, conta já com 20 anos de experiência como psicóloga e na área da formação profissional. Está também ligada ao CENFIM - Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica, da Marinha Grande, onde faz acompanhamento psico-pedagógico de jovens e adultos. Viajar é outra das suas paixão.

Sobre o livro, Sónia Cardeira diz que o mesmo nasceu de uma necessidade pessoal de se encontrar e do desejo de “partilhar” com os outros mensagens que a ela lhe dão “algum conforto, alento e esperança”. O objectivo é que que “as pessoas possam abrir o livro ou tirar uma carta aleatoriamente e encontrar uma fase que lhes possa servir de inspiração, conforto ou conselho”.