Desporto

Quem é aquele rapaz barbudo que vai ver todos os jogos de andebol?

18 fev 2016 00:00

Hoje, vamos contar a história de uma descontrolada paixão. Estamos a falar do amor que Pedro Marques sente de forma desmesurada pelo andebol e que o faz palmilhar quilómetros a pé.

quem-e-aquele-rapaz-barbudo-que-vai-ver-todos-os-jogos-de-andebol-3122

A devoção é de tal forma intensa que o rapaz raramente perde um jogo que se dispute na cidade. Por ela, pelos amigos que fez e pelos atletas que aprendeu a admirar, vai, a pé, até onde for preciso.  

Se, ocasionalmente, assiste a jogos de andebol na cidade de Leiria sabe de quem estamos a falar. As barbas longas são uma marca distintiva, mas tem outra, bem mais potente. Por norma, Pedro Marques está no seu canto, mas, por vezes, sobretudo quando se insurge contra alguma decisão da equipa de arbitragem, sai da concha e profere algumas palavras com a sua voz de Tom Waits. E, aí, passa a ser o centro das atenções.

É algo que detesta, mas as paixões são assim, levam-nos a “cometer loucuras”. Pedro Marques prefere ver os jogos tranquilamente e sem dar nas vistas. Tem dificuldades em ver as partidas sentado e, por isso, o varandim do pavilhão da Juve Lis é o local de eleição para acompanhar os jogos.

“Enervo-me muito”, admite. Os quilómetros que tem feito, a pé, para assistir aos jogos de andebol quase davam para dar a volta ao mundo. Reside na Cruz da Areia e vai para São Romão ou para a Gândara sem qualquer problema, desde que saiba que a bola vai saltar.

Pedro Marques começou a jogar aos seis anos, no Académico de Leiria. Manteve-se por lá até aos 19, quando foi estudar para a Escola Profissional de Artes e Ofícios Tradicionais da Batalha. Nessa altura, o clube deixou de ter juniores e, pouco tempo depois, acabou por extinguir a secção.

Um dos momentos que mais o orgulha, admite, foi quando era iniciado e o treinador de então o escolheu para fazer o remate decisivo, em detrimento de Filipe Oliveira, atleta do AC Sismaria que foi internacional português e passou pelo Benfica e pelo Belenenses. Foi golo e ganharam o jogo, já agora.

Hoje, com 32 anos, tem noção do vazio que o clube onde se formou criou na modalidade. “Foi uma grande tristeza”, enfatiza. “Claro que foi muito grave e faz muita falta. Quanto mais clubes melhor. É necessário formar os jovens, que precisam de desporto e cultura.”

Como já não existe Académico, onde treinou como nomes sonantes como Sílvio Roda, Sérgio Sigismundo ou Álvaro Campos, Pedro Marques passou a torcer pelas equipas da cidade, Juve Lis ou Sismaria. “Quando há derby? Sou imparcial”, garante. “Algumas vezes, no Académico, foi-me incutida aquela coisa infeliz chamada rivalidade, de virarmos as costas aos outros. Não é solução. O nosso andebol precisa de se unir e os clubes têm de trabalhar em conjunto.”

Gosta de assistir as partidas, não tem preferências entre jogos de rapazes e raparigas, mas não apenas das grandes execuções, das roscas, dos chapéus, e das grandes defesas. Também vai analisando os encontros do ponto de vista táctico e conjecturando quais seriam as melhores soluções para os problemas que surgem dentro de campo.

Em Leiria, salienta, “há de tudo: bons e maus treinadores”. “Com os jogadores que temos tínhamos obrigação de estar mais além. Há muito valor que precisa de ser aproveitado, tanto no sector masculino como no feminino.”

Os árbitros, admite, é que lhe dão a volta à barriga. “De uma forma geral não estão vocacionados para proteger o espectáculo, mas para darem os resultados aos melhores. Prejudicam constantemente as equipas de Leiria, o que é muito injusto.” Lamenta, também, o “afastamento do público” dos pavilhões.

Mas se o andebol é a “grande paixão” de Pedro, também motiva a maior tristeza. “Já tentei regressar algumas vezes e gostava mesmo muito de voltar a jogar. Infelizmente, não há espaço para todos…”