Desporto
Quer ser treinador? E quer um conselho? Por favor, não copie
Três conceituados treinadores portugueses, de modalidades distintas, deixaram em Leiria várias pistas sobre como liderar um grupo: não copiar ídolos, ser autêntico e saber influenciar.
Responsável pela selecção nacional de futebol do escalão sub-21, Rui Jorge está há cinco anos sem perder. Teve como treinador alguns dos mais sonantes nomes que passaram pelo futebol português, como Carlos Alberto Silva, Bobby Robson, António Oliveira, Laszlo Bölöni e Fernando Santos.
Aprendeu com todos eles? Claro. Ficou a saber com outros como não proceder? Também. Do que ele tem a certeza é que o importante é não copiar aqueles que temos como ídolos, por muito que os admiremos.
Porquê? “O que vivemos não foi o que vocês viveram, o que sentimos não foi o que vocês sentiram e os grupos que lideramos não são os mesmos. Por isso, é impossível copiar e há coisas que, depois, denunciam quem o faz.”
Oitenta por cento da vida de Rui Jorge foi passada ligado ao futebol. Um sem-fim de horas de treinos e de jogos, anos e anos de balneário que acabaram por moldar a liderança que, naturalmente, se impõe.
“São milhares de horas a ver reacções, a ver lideranças, a ver piscares de olhos, a ver ficar branco, a ver ficar preto, a ver ficar vermelho, a ver cair de costas. Vi de tudo”, sublinha o antigo futebolista do FC Porto e do Sporting.
Em Leiria, no decorrer da conferência Treinadores portugueses, liderança inteligente organizada pela Lab Coach e apoiada pelo JORNAL DE LEIRIA, Rui Jorge salientou que tudo o que é enquanto líder se baseia no que viveu.
“E quando tento passá-lo aos jogadores faço-o de forma natural.” E assim chega a uma outra característica que entende fundamental: a “autenticidade”.
“Tem-se a ideia que, no futebol, o jogador não é inteligente, mas é a pessoa mais perspicaz que existe. Logo que entra um treinador estão à procura de fraquezas e percebem-nas.
Se o treinador tentar defender uma coisa na qual não acredita, os jogadores vão apanhá-lo. Está próximo de falhar se não for autêntico”, explica.
A importância da liderança é tal que Rui Jorge, sete vezes campeão nacional como jogador pelo FC Porto e Sporting, não tem dúvidas. “Nunca fui campeão com um líder fraco. Uma vez estive quase, mas nunca fui. Que os jogadores não olhassem para ele e não vissem ali um líder."
Mais! "Claramente existiram treinadores que dominavam muito mais a parte do treino do que outros, mas o traço comum era a capacidade de liderança. Fui companheiro de Figo e mesmo no caso desses jogadores, quando olham para o treinador com respeito, é diferente. Eles sabem quem respeitar.”
Enquanto seleccionador de sub-21, Rui Jorge lida com os jogadores no momento em que “de um dia para o outro”, “passam de meros desconhecidos” a “primeira página de jornal”.
“Correm o risco de se acharem os melhores do mundo. Acredito muito no valor humano da pessoa, porque é de facto muito importante. Muitas vezes, esses jogadores não têm uma educação forte por trás e o que tentamos fazer neste espaço é chamá-los à razão. Não é dizer para não comprar o carro, é dar o exemplo.”
De qualquer maneira, e seja quem for o atleta que está a orientar, para Rui Jorge, a essência do sucesso está nas regras. “Tenho aquilo que eles querem, decidir quem vai jogar, e eles sabem que se não estiverem bem, centenas de pessoas querem o lugar deles”, explica o seleccionador.
“Mediaticamente são mais importantes do que eu, mas tem de existir alguém que lidera e não pode haver qualquer dúvida quanto a isso. Acredito que quem está do outro lado gosta de agradar ao treinador. E se sabe o que o treinador valoriza vai fazer por cumprir. Não me importo de parecer demasiado duro numa fase inicial, mas o respeito é fundamental no grupo e na vida.”
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