Sociedade

Ribeira do Amparo polui lago do Jardim da Almuinha Grande

29 ago 2022 17:19

Desde a inauguração, há três anos, foram retirados detritos duas vezes do espelho de água

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Necessária acção, semelhante à realizada no Polis, para a ribeira do Amparo
Ricardo Graça/Arquivo
Jacinto Silva Duro

O lago do Jardim da Almuinha Grande, em Leiria, está novamente coberto por algas verdes.

O fenómeno, negativo para a fauna e flora aquáticas, não é novo e acontece quando o caudal reduz e a temperatura aumenta, potenciado pela pelo excesso de matéria orgânica existente na água proveniente de descargas de esgotos para a ribeira.

O vereador do ambiente, Luís Lopes, explica tratar-se de um processo de eutrofização, “que decorre da redução dos caudais de abastecimento do lago, principalmente da ribeira do Amparo, e pelo facto de a água estar estagnada por existência de uma barreira, para permitir a criação de um espelho de água.”

“O que se passa no lago é uma amostra do que acontece, neste momento, em todos os rios e ribeiras do concelho e do sul da Europa. Mas, na Almuinha, está mais à vista”, refere João Marques da Cruz, um dos arquitectos que projectou o espaço verde. O fenómeno, adianta, não é sequer ponto de discussão.

“Cerca de 90% das pessoas concordam que é preciso alterar o que se passa com o ambiente e com as linhas de água. Não é caro e há apoios para isso.”

Marques da Cruz explica que a “ribeira do Amparo está doente” por duas razões. “Recebe descargas poluentes e as suas margens estão despidas da vegetação própria, o que origina uma grande erosão das margens e a acumulação dos sedimentos a jusante. Este problema existe com ou sem jardim.”

Ou seja, a transformação no aspecto do lago decorre da “acção humana errada” nas margens e na água. Especialmente no Verão, a água poluída, as descargas e os esgotos ilegais, aliados à seca, e baixo caudal, serão, tudo indica, “excessivos” e mais do que o “filtro biológico”, constituído por bactérias e vegetação aquática e ripícola, consegue limpar.

Para ajudar a recuperar a água, durante a construção do espaço verde, foi instalado um sistema de bombas, que retira água do Lis ali ao lado, e a envia para uma cascata que a oxigena. E deveria ser suficiente.

“Se não é, é preciso despoluir a ribeira. Não podemos ter ali um esgoto a céu aberto!”, sintetiza João Marques da Cruz. Desde que foi criado, já por duas vezes, na sequência de fortes chuvadas, foi necessário limpar lamas e areia que se acumularam no lago.

Tal acontece devido aos problemas de forte erosão das margens da ribeira do Amparo, verificados a montante do lago do jardim.

“Porquê usar esta ribeira havendo problemas de erosão e poluição? O curso de água atravessa a área do jardim e o projecto aproveitou ao máximo o seu potencial. A solução para a ribeira do Amparo não é enterrá-la, é recuperá-la”, justifica o arquitecto.

Contudo, adianta ser necessária uma acção, provavelmente, semelhante à realizada no percurso Polis, para limpar e dotar as margens com vegetação ripícola e árvores, que impeçam o agravamento da erosão no curso de água.