Viver

Sal Nunkachov: “Nunca vou editar um PDF. Não é um livro, é um ficheiro com zeros e uns”

11 jun 2023 11:00

Desde a abertura, há ano e meio, em Leiria, a Paper View já soma mais de 230 edições relacionadas com fotografia, ilustração, texto e poesia visual. O principal mercado é o Canadá. Estão na calha publicações com José Anjos e Valério Romão

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Na livraria, editora e galeria, à Avenida Nossa Senhora de Fátima. “A ideia de que a impressão, e de que o papel, está a morrer, é errada. Esse futuro que nos prometeram não existe”
Ricardo Graça

À entrada da Paper View, vemos uma exposição permanente de máquinas de escrever. É importante para a editora, a não utilização de tecnologia de última geração?
É muito mais engraçado. A máquina que tenho lá em baixo, tem 150 anos, se calhar, mais. Há ali máquinas de escrever que têm 30, há máquinas de escrever que têm 40, há máquinas de escrever que têm 70 anos – estão a funcionar. Um computador com cinco anos já começa a falhar. As coisas mais digitais são falíveis e muito pouco estáveis e estão mais na lógica mercantil do capitalismo, do consumo rápido. E eu não gosto muito desse jogo.

No trabalho de impressão e publicação, a Paper View utiliza exclusivamente equipamentos obsoletos?
Não exclusivamente. E gostava que fosse exclusivamente. Mas não exclusivamente por várias questões, muitas delas, até, práticas. Se eu quiser compor um poema em chumbo, demoro, se calhar, dois dias; se o quiser fazer no Word, se calhar, demoro cinco minutos. Temos uma prensa Minerva de pinças, mimeógrafos, duplicadores a álcool, risografia, tudo máquinas com décadas.

Desde a abertura, há ano e meio, quantas publicações já têm a chancela da Paper View?
Mais de 230. Deve estar a bater, rapidamente, nas 250. Fotografia, ilustração, poesia visual e texto. Disto, o que saiu menos foi ilustração. No início, lancei muita fotografia, e agora estou mais numa fase de lançar poesia concreta e visual.

Autores portugueses, mas não só.
Quase sempre não portugueses. A prática da poesia visual em Portugal foi muito situada no tempo e sobra muito pouca gente activamente a fazer. E os que fazem são quase todos dessa altura, ainda lá de trás. Mas tem sido publicado Fernando Aguiar, César Figueiredo, Ana Hatherly...

Há uma rede de comunicação e colaboração que a Paper View estabeleceu a partir de Leiria e que chega a vários pontos do mundo?
A partir de Leiria, na circunstância de eu, fisicamente, existir em Leiria, porque, para o caso, não teria diferença nenhuma ser noutro lado. Por exemplo, 90% é venda online. E, os outros 10%, não é em loja, é em pequenas feiras independentes. A editora é um bocado atípica no panorama nacional, por ser dedicada, quase em exclusivo, à poesia concreta. Se alguém tiver alguma coisa para publicar de poesia visual, à partida, vai falar connosco.

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