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Se não sabe assobiar, pode aprender na SAMP

26 out 2015 00:00

Escola de artes de Leiria lançou curso inédito de assobio

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A Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP), em Leiria, abriu um curso de assobio neste ano lectivo, uma proposta inédita que teve origem numa aluna que pretendia dar um novo sopro à arte que a acompanha desde criança.

“Eu sempre assobiei, sempre adorei assobiar”, disse à agência Lusa Célia Simões, de 51 anos, assumindo que assobia em casa, no carro, na rua, “em todo o lado”, para ser mais precisa, mesmo que tal possa originar olhares de admiração ou estranheza.

Esta empregada no comércio, residente em Leiria, manteve, contudo, o desejo de à vertente lúdica somar a parte académica, pelo que bateu à porta da SAMP, onde encontrou nesta escola de artes o local para melhorar a sua capacidade de fazer música expirando ar pelos lábios.

“O assobio é uma coisa que me agrada imenso, mas também vejo como uma arte que pode ser trabalhada, que pode ser melhorada”, declarou.

Em Maio, escola e aluna começaram a experiência com a professora de canto Isabel Catarino, que resultou, em Setembro, na criação do primeiro curso de assobio.

“É uma descoberta mútua, a professora dá-me todos os ensinamentos técnicos e tenho vindo a aprender muito, incluindo saber os meus limites em termos de assobio, no sentido da pauta musical, os mínimos e os máximos, por exemplo”, referiu Célia Simões.

Através do assobio, Célia Simões, para já aluna única, percorre vários estilos musicais, do pop ao rock, do soul ao reggae, mas admitiu gostar particularmente de assobiar soul. Agora as aulas, uma vez por semana, passam por árias do século XVIII.

Para o diretor artístico da SAMP, Paulo Lameiro, “assobiar é, claramente, uma arte (…), não tem sido tratada academicamente, mas é um instrumento, funciona como uma flauta, os lábios funcionam como dois biséis, duas arestas, utiliza o mecanismo de respiração exatamente igual a um cantor”.

Segundo o musicólogo, “o que se consegue fazer com o assobio está ao mesmo nível do que no violino, na flauta, ou piano ou voz humana”.

“A voz humana pode cantar fado, jazz, Schubert, Mozart e então o assobio vai fazer o quê? Vai cantar músicas de trabalho? Pois, com certeza. Vai cantar música pop? Pois com certeza. Pode cantar clássico? É claro que pode cantar clássico”, continuou.

Paulo Lameiro adiantou que, “por todo o planeta, existem muitas práticas em que o homem assobia não só para comunicar entre si, para se exprimir”, mas reconheceu que “a grande diferença do assobio por exemplo em relação à voz é que isso é utilizado muito para comunicar com os animais, com a natureza”.

A professora Isabel Catarino explicou que o curso passa por aplicar o canto ao assobio.

“Estamos a desenvolver o mesmo repertório que é trabalhado no canto, quer ao nível das técnicas ou outros aspetos”, disse Isabel Catarino, professora do ensino básico formada em canto.

A docente adiantou que como se trata de um curso livre são trabalhados em simultâneo vários estilos musicais, “indo ao encontro das expectativas e gostos da aluna”, salientando que o maior desafio que tem em mãos com este projecto “é testar os limites do assobio”.

Agência Lusa/Jornal de Leiria