Sociedade
Secretário de Estado esteve na Marinha Grande e reconheceu “pequenos atrasos”. O que está feito e o que se vai fazer no Pinhal do Rei até 2024
Área que já está rearborizada equivale a 12% do que ardeu em Outubro de 2017. Governo garante que o ICNF vai ter mais técnicos na Marinha Grande e promete investir 6 milhões de euros até 2024 em rearborização, aproveitamento da regeneração natural e reflorestação
Na plateia do Teatro Stephens, os membros do Observatório do Pinhal do Rei. E, no palco, a presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande, o presidente do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e o secretário de Estado das Florestas, João Catarino.
Aconteceu esta tarde, na Marinha Grande, com João Catarino a reconhecer “pequenos atrasos” na recuperação do Pinhal de Leiria, que justifica, em parte, com a burocracia e com o ritmo da Natureza.
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Será necessário rearborizar pelo menos 4.700 hectares de área ardida e só estão rearborizados 1.178 hectares.
No restante, o Estado conta com regeneração natural.
Arderam 9.500 hectares em Outubro de 2017, faz hoje três anos. O equivalente a 86% da Mata Nacional de Leiria.
Há concurso aberto para sete técnicos superiores a colocar pelo ICNF na Marinha Grande, a juntar aos três que já lá trabalham.
E, até 2024, o Governo compromete-se a investir 9,1 milhões de euros na Mata Nacional de Leiria.
As acções de rearborização e de aproveitamento da regeneração natural representam dois terços deste valor, ou seja, 6 milhões de euros.
Neste texto, vamos explicar como.
A venda de madeira ardida proveniente dos incêndios de Outubro de 2017 no Pinhal de Leiria está 99% concluída e rendeu 16 milhões de euros.
João Catarino garante que este valor será totalmente reinvestido na Mata Nacional de Leiria. E diz que não chega. Serão necessários mais milhões e mais investimentos além de 2025.
Retirada de madeira destruiu regeneração natural
Para já, as explicações do secretário de Estado, que ouviu, de alguns membros do Observatório do Pinhal do Rei, vários reparos, sobre o défice de meios humanos e financeiros no ICNF, a destruição da regeneração natural pelas empresas que retiraram madeira ardida do Pinhal, os ataques fitossanitários e a proliferação de espécies invasoras.
Também a presidente do Município pede um caminho mais célere e efectivo e mais meios humanos e materiais ao serviço da floresta no concelho da Marinha Grande.
Cidália Ferreira quer um investimento muito mais sério, concertado e continuado, que inclua limpeza de áreas não ardidas, manutenção da rede viária e plantação de forma ordenada e sistemática das áreas que já estão em condições de receber novas plantas.
Na resposta, João Catarino disse compreender as frustrações da população da Marinha Grande - “Há coisas que podiam ter acontecido mais depressa? Provavelmente, sim” - mas argumentou com o labirinto administrativo e com o tempo que é o da Natureza.
“Até agora, permitam-me que vos diga, com pequenos atrasos, estamos a cumprir aquilo que eu julgo que tem de ser cumprido”.
O processo de reflorestação tem de ter projecto, preparação do concurso público, lançamento do concurso e visto do Tribunal de Contas.
“Nada disto se faz em menos de um ano e meio, a correr bem”, alega o secretário de Estado.
Segue-se o plano de acções apresentado esta tarde no Teatro Stephens.
Rearborização
Até agora, segundo o ICNF, foram rearborizados 1.178 hectares, que equivalem a 12% dos 9.500 hectares de área ardida nos incêndios de 15 de Outubro de 2017.
A taxa de sucesso é de 80%, isto é, 20% das plantas morreram.
Há 1.344 hectares para rearborizar até 2022.
E ainda 2.193 hectares para rearborizar entre 2021 e 2024.
Regeneração natural
Inicialmente, o ICNF identificou 6.000 hectares de área ardida em que esperava regeneração natural.
Destes, pelo menos 2.000 hectares – ou seja, 30% – vão, afinal, precisar de rearborização.
No restante decorre um plano de monitorização.
A regeneração natural assegura as melhores sementes e as melhores condições de adaptação ao território, além de preservar o património genético do Pinhal de Leiria, segundo Nuno Banza, presidente do ICNF.
Reabilitação contratualizada
Até 2022, está em execução a reabilitação de áreas afectadas pela tempestade Leslie, numa área de 336 hectares para rearborizar e 637 hectares que necessitam de cortes e remoção de material lenhoso.
Acções fitossanitárias
Prevenção da floresta contra agentes bióticos (pragas e doenças) numa área de 811 hectares entre 2021 e 2024.
Controlo de invasoras
Acções de controlo de invasoras lenhosas, entre 2021 e 2024, numa área de 595 hectares.
Mosaicos e rede primária de gestão de combustível
Executados 345 hectares de mosaicos, outros 127 hectares a executar ainda este ano e mais 237 hectares a executar entre 2021 e 2024.
Executados 32 hectares de rede primária e outros 22 hectares a executar até ao final de 2020.
Melhoria da rede viária e divisional
Beneficiação de 10 quilómetros de rede divisional e beneficiação de 28 quilómetros de rede viária florestal, entre 2021 e 2024.
Investimento
Contas feitas, estão executados ou aprovados para executar, um total de 4,3 milhões de euros.
E há 4,8 milhões para executar entre 2021 e 2024.
Ou seja, o Estado compromete-se a investir 9,1 milhões de euros até 2024 no Pinhal de Leiria.
As acções de rearborização e de aproveitamento da regeneração natural representam dois terços deste valor.
Receitas da madeira ardida
A venda de material lenhoso com valor comercial está praticamente concluída e rendeu 16 milhões de euros.
Foram identificados 5.382 hectares com interesse e estão intervenciondos 5.285 hectares.