Sociedade
Sem indústria, economia nacional perde capacidade de inovação
Empresários apelam ao Governo que implemente uma política industrial que coloque a competitividade empresarial como preocupação transversal da intervenção do Estado na economia
Entre 1998 e 2013, o emprego assegurado pela indústria na economia portuguesa caiu 7,8 pontos percentuais. Também o peso da indústria no Valor Acrescentado Bruto (VAB) desceu, tendo-se registado igualmente uma “queda pronunciada do investimento industrial”. Face a este contexto, a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) promoveu o Compromisso para o relançamento industrial e competitividade, ao qual aderiram terça-feira, em Leiria, 18 empresas da região.
O documento aponta a “importância da indústria e dos serviços a ela ligados para a capacidade de inovação e de criação de emprego de qualquer economia moderna, bem como para a sua resiliência a choques económicos”; lembra que ela “constitui o principal elo da integração da economia portuguesa na economia europeia e mundial e que o equilíbrio externo da nossa economia depende do dinamismo e da solidez da sua base industrial”; e refere “os desafios e oportunidades que a tecnologia digital e a chamada Indústria 4.0 abrem às empresas portuguesas, e a necessidade de participarem nesse processo de mudança, sob pena de serem ultrapassadas pelos seus concorrentes”.
Os empresários signatários do Compromisso “assumem o desígnio do relançamento industrial em Portugal”. A ambição, referiu António Saraiva na conferência Política Industrial para o Século XXI e Indústria 4.0, que decorreu na Nerlei, é que em 2020 o peso da indústria no VAB seja de 18% (o ano passado era de 13,8%).
Para tal, assegurou o presidente da CIP, os empresários comprometem-se, entre outros aspectos, a “colocar os seus recursos ao serviço de estratégias industriais que promovam a competitividade, o crescimento e a solidez das suas empresas” e a “dar prioridade às relações com as universidades, centros tecnológicos e outras entidades do sistema de investigação e inovação, no sentido de valorizar o conhecimento e as competências disponíveis ao serviço das estratégias empresariais”.
Mira Amaral “Indústria não pode ser só manufactura”
Não se pode confundir o conceito de reindustrialização com retorno à indústria do passado. Quem o defende é Mira Amaral, que terça-feira foi um dos participantes na conferência realizada em Leiria. Para o presidente do Conselho da Indústria Portuguesa da CIP, reindustrialização deve estar associada ao conceito de nova fábrica do futuro e deve basear-se numa “política industrial centrada em indústrias a operar em mercados internacionais abertos e concorrenciais, com empresas e instituições de I&DT de topo a nível mundial que operem num quadro de previsibilidade legislativa”.
“Indústria não pode ser só manufactura, tem de implicar um conjunto de bens e serviços transaccionáveis”, defendeu na iniciativa, adiantando que precisamos de uma política industrial que “melhore o ambiente de negócios”.
O orador lembrou ainda que a existência de recursos humanos em quantidade e qualidade é “indispensável” à reindustrialização e referiu que, no âmbito de um grupo de trabalho da CIP, se percebeu que em Portugal os Politécnicos de Leiria e do Porto “são os melhores exemplos” de trabalho em ligação com o tecido empresarial.
No evento participaram ainda, além de António Saraiva, (CIP), Jorge Santos (Nerlei), Augusto Medina (Sociedade Portuguesa de Inovação), António Neto da Silva (membro do Conselho da Indústria da CIP), Luís Febra (Socem), Mário Cunha (Schäffler), Ana Abrunhosa (CCDRCentro) e Gonçalo Lopes (Câmara de Leiria).
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