Sociedade

"Sempre nos interrogámos se ia alguma vez acontecer e onde"

22 mar 2016 00:00

Emigrantes do distrito de Leiria que vivem em Bruxelas descrevem mudanças pelo receio de atentados terroristas.

sempre-nos-interrogamos-se-ia-alguma-vez-acontecer-e-onde-3474

Nos últimos meses, muita coisa mudou em Bruxelas. "Em Novembro estivemos uma semana com o metro fechado, escolas fechadas. Como trabalho três semanas na Bélgica e uma em França por mês sentimos na pele o fecho das fronteiras e as filas intermináveis no controlo de passagem", descreve Joana Benzinho, funcionária do Parlamento Europeu, que assim coloca em evidência os efeitos dos atentados de Paris nas rotinas dos cidadãos residentes no coração da Europa.

"Bruxelas parou no final de Novembro e ainda não tinha recuperado", afirma a assessora do deputado Carlos Zorrinho, que é natural de Pombal e está há 17 anos em Bruxelas.

"Sou solteira e sem filhos. Continuarei cá por ser aqui a minha vida profissional, mas esta realidade condiciona claramente o nosso quotidiano", admite.

"Viajo amanhã para a Guiné-Bissau em virtude do trabalho da ONG que fundei e que ali trabalha (Afectos com Letras) e mais uma vez parto para lá com a sensação que me sinto mais segura fora de Bruxelas. Vamos ver se há voos... Estamos verdadeiramente sitiados" (na fotografia, da agência AP, momentos vividos ontem no aeroporto).

Também Juliano Franco, que cresceu na Marinha Grande, trabalha há vários anos em Bruxelas e fala de uma cidade curvada perante a necessidade de apertar as medidas de segurança e prevenção.

Militares nas ruas, nas instituições europeias e junto de algumas embaixadas, entre outras alterações à rotina diária. "Quando o [Salah] Abdeslam fugiu de Paris, ficámos todos em casa durante três dias. Os seguranças do meu escritório andavam de colete anti-bala. Sempre nos interrogámos se ia alguma vez acontecer e onde", refere.

O escritório de Juliano Franco fica no edifício do Provedor de Justiça Europeu, na Rua Montoyer, muito perto do Parlamento. E da estação de metropolitano de Maelbeek, onde ocorreu uma das explosões da manhã de terça-feira, 22 de Março.

"Passo aí todos os dias. Normalmente de autocarro, mas também a pé", conta o jurista português, que na segunda-feira voou para Espanha, de férias.

"Isto agora eleva as coisas a um nível muito diferente. Cria obviamente medo. Pelo que me apercebi, os meus colegas estão fechados no escritório. E muito provavelmente vamos receber instruções para trabalhar a partir de casa nos próximos dias".

Leia mais na edição impressa, da próxima quinta-feira