Saúde

Sindicato Independente dos Médicos classifica situação da urgência de Leiria como "catástrofe"

6 mai 2022 09:38

Ordem dos Médicos denunciou esta quinta-feira que a urgência esteve sem resposta 42 períodos este ano

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O Sindicato Independente dos Médicos classificou hoje de “catástrofe” a situação que enfrenta o Serviço de Urgência (SU) do Hospital de Santo André, em Leiria, que integra o Centro Hospitalar de Leiria (CHL), “seja médica, cirúrgica ou ortopédica”.

“As dificuldades em preencher as escalas de urgência, de acordo com as normas estabelecidas, tem condicionado, com frequência, o encerramento de valências do SU, com referenciação de doentes a outros hospitais da região centro”, denuncia o SIM em comunicado.

Segundo a nota, “a dispersão" de recursos entre os três hospitais do Centro Hospitalar de Leiria, "os erros na gestão com desrespeito aos seus profissionais, dos direitos que legalmente lhes estão estabelecidos (como por exemplo folgas, descansos compensatórios e direitos parentais), estão na base do progressivo abandono de médicos do CHL e da degradação dos cuidados por este prestados”.

A isto, refere o SIM, soma-se o “crescimento desmesurado do hospital", com a integração das unidades de Pombal, de Alcobaça e o "alargamento da sua área de influência ao eixo Ourém-Fátima”, a que “não correspondeu o adequado ajuste dos quadros de pessoal”.

“Médicos há que se deslocam de forma fixa entre os três hospitais, com prejuízo da sua produtividade. O exemplo de Leiria repete-se em muitos outros centros hospitalares”, alerta o SIM, sugerindo a revisão das “fusões hospitalares, pelo menos naqueles locais onde mostraram ser nefastas ao interesse público, bem como dar condições aos profissionais de saúde, para a prestação digna de cuidados a quem deles necessita”.

O SIM agradece ainda a "todos os profissionais do CHL, pelo esforço com que, na adversidade, vão conseguindo manter os cuidados de saúde à sua população".

"Injusto seria afirmar que tudo está mal no CHL, que nada melhorou desde a sua criação. Há efetivamente algumas áreas em que a assistência melhorou e outras novas existem. Mas o facto é que os cuidados oferecidos à população pioraram significativa e progressivamente nos últimos anos", lê-se ainda no comunicado.

Esta quinta-feira, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) revelou que a Urgência Geral e a Área Dedicada a Doentes Respiratórios do hospital de Leiria esteve sem resposta 42 períodos este ano. Um período corresponde a um turno de 12 horas.

A SRCOM especificou que foram 12 períodos em Abril, oito em Março, sete em Fevereiro e 15 em Janeiro, ressalvando que, “nalguns destes períodos críticos, têm sido asseguradas, entre outras, as respostas em ortopedia, pediatria, ginecologia/obstetrícia e cirurgia”.

Citado na nota, o presidente da SRCOM, Carlos Cortes, sustentou que o encerramento da Urgência Geral tem vindo a verificar-se, repetidamente, mas agora “com consequências catastróficas”, dado que está a ser prejudicada a resposta da Via Verde Acidente Vascular Cerebral (AVC).

“Com os problemas na Via Verde AVC fica comprometida a eficácia dos primeiros tratamentos e em tempo útil. É uma situação inédita sem resolução do Ministério [da Saúde], configurando um retrocesso de anos na resposta a esses doentes”, alertou Carlos Cortes.

Segundo o dirigente, “a emergência pré-hospitalar está, devido a este grave problema, a ter enormes limitações com consequências imprevisíveis".

Observou ainda que, enquanto se efectuam as transferências de doentes para as Urgências do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra ou outra unidade, os meios de emergência médica de Leiria ficam com a resposta comprometida em tempo útil face às solicitações da sua área de abrangência.

Considerando que se está “perante uma situação de calamidade por falta de recursos humanos e de exaustão extrema dos profissionais do hospital", o presidente da SRCOM afirmou não ser admissível “o esforço quase sobre-humano desenvolvido pelo hospital sem que o Ministério da Saúde dê qualquer sinal para tentar ajudar a resolver a situação”.

“A ministra da Saúde não pode ser exclusivamente a ministra da Covid-19, tem de ser ministra do SNS [Serviço Nacional de Saúde] e do sistema de saúde na sua globalidade, capaz de assegurar a resposta em cuidados de saúde para todos os doentes”, defendeu.

Carlos Cortes acrescentou que “a Ordem dos Médicos tem vindo a alertar para a falta gritante de médicos especialistas no hospital de Leiria, cujo corpo clínico tem desenvolvido um esforço notável para contrariar o desleixo do Ministério da Saúde”, assinalando que “um terço dos episódios de urgência são de doentes fora da área de influência do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), mas os recursos humanos não aumentaram na mesma proporção”.

“O ‘encerramento’ das urgências hospitalares de Leiria provocam um impacto muito negativo na resposta efetiva à doença súbita e a situações de emergência", adiantou este responsável da Ordem dos Médicos citado na nota de imprensa, apelando a “medidas imediatas e definitivas” da tutela.