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Solistas de Llíria e Óbidos tocam em Leiria na estreia de 17 novas criações
A terceira edição do Festival Leiria Cidade Criativa da Música reforça a ligação com a rede Unesco e oferece três dias de concertos inéditos com obras que vão ser executadas perante público pela primeira vez

Por um lado, procura salientar as possibilidades técnicas do oboé e do vibrafone, por outro, ambiciona destacar o talento dos intérpretes. Concebida em forma de divertimento, “Colloquium II” é uma peça de música contemporânea para dois solistas escrita por José Alamá-Gil e vai ser tocada pela primeira vez ao vivo com a participação do Ensemble de Sopros da Associação das Filarmónicas do Concelho de Leiria. Um momento “especial” que o compositor natural de Llíria (na região de Valência, Espanha) aguarda “ansiosamente”.
“Desejo que a obra seja tão agradável para o público ouvir, quanto foi para mim compô-la”, explica na mensagem enviada por correio electrónico a propósito da estreia agendada para o próximo domingo, 23 de Fevereiro, no Teatro José Lúcio da Silva. O concerto, com início às 18 horas, será dirigido pelo maestro Alberto Roque e encerra a terceira edição do Festival Leiria Cidade Criativa da Música.
Não é a primeira vez que Llíria e Leiria colaboram – ambas cidades criativas da Unesco, têm promovido intercâmbios na área da música – e José Alamá-Gil não é o único músico proveniente de Espanha que se junta a este fim-de-semana. Os solistas Aitor Llimerá Galduf (oboé, está representado no Roteiro Musical de Leiria) e Manuel Roda (vibrafone) também são oriundos de Llíria e chegam para tocar “Colloquium II” no Teatro José Lúcio da Silva.
“Faz sentido sob o ponto de vista institucional abrir ligações para fora” e “estreitar laços”, comenta o director do festival e do projecto Leiria Cidade Criativa da Música, Daniel Bernardes. O terceiro solista convidado este ano – Luís Pereira (bateria) – vem de outra cidade criativa da rede Unesco: Óbidos.
Entrada livre
A programação (espectáculos sempre gratuitos) arranca esta sexta-feira, 21 de Fevereiro, com a pianista e compositora Inês Condeço (de Leiria, actualmente a viver em Lisboa) e a Camerata de Cordas de Leiria a encontrarem-se no palco do Teatro Miguel Franco, pelas 21:30 horas. Música experimental inédita que, de acordo com Daniel Bernardes, constitui um desafio para todas as partes. Inês Condeço “nunca tinha escrito para cordas” e a Camerata “vai estar submersa num mundo de electrónica” que leva os músicos “para fora da zona de conforto ou, pelo menos, daquilo que estão habituados a fazer”.
No sábado, 22 de Fevereiro, o Teatro José Lúcio da Silva acolhe a Orquestra Jazz de Leiria e o baterista Luís Pereira, apresentado pela organização como “um dos grandes talentos da bateria em Portugal”, que, sob a direcção de César Cardoso, vão estrear temas de Tomás Pimentel, Luís Figueiredo (responsável pelo arranjo de “Amar Pelos Dois”, a canção com que Salvador Sobral venceu o concurso da Eurovisão em 2017) e do leiriense Eduardo Cardinho, hoje radicado no Porto, entre outros, como João Pedro Brandão, António Quintino e Óscar Graça.
Montra para o talento
Por fim, no domingo, 23 de Fevereiro, o programa é dedicado à música contemporânea e inclui novas composições de Daniel Moreira e Rui Penha, Lino Guerreiro, Sílvia Mendonça Teles (natural da Marinha Grande, a residir em Santarém) e Carlos Filipe Cruz (professor da Academia de Música de Alcobaça).
Ao todo, 17 criações em estreia absoluta, incluindo encomendas da Leiria Cidade Criativa da Música e quatro obras finalistas do Concurso Internacional de Composição de Leiria, este ano com recorde de submissões: “Continuum Landscape”, de Marco Luís Lopes Pereira, e “Linha d’água”, de Jeovan da Silva Barbosa Junior, na categoria de música erudita, e “TSU”, de Manuel Maria Bastos Rola Basto Guerra, e “Aurora”, de Estela Alexandre Albino, na categoria de jazz, que serão executadas pela primeira vez perante público durante o festival. Serão, também, anunciados os vencedores em cada categoria (prémio de 2.000 euros para o primeiro lugar e de 1.000 euros para o segundo classificado).
Festejar a liberdade
Além de estimular a criação, um dos objectivos da Leiria Cidade Criativa da Música, segundo Daniel Bernardes, é que o festival “sirva de montra” para músicos locais, através do diálogo com artistas consagrados no panorama nacional ou mesmo internacional. Em 2025, reúnem-se diferentes estéticas, proveniências e gerações a pensar o tema “Liberdade(s)”, na continuidade das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril. Ao mesmo tempo, é a própria cidade que ganha reconhecimento. “Fazemos questão de exigir a todos os compositores e aos participantes no concurso que seja sempre mencionado, em qualquer parte do mundo, que esta obra foi encomendada e foi estreada no âmbito do Festival Leiria Cidade Criativa da Música”.