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Soutocico enterra o “fiel amigo”

31 mar 2016 00:00

Cortejo fúnebre do Enterro do Bacalhau realiza-se sábado, no Soutocico. Cerca de 300 figurantes compõem o elenco do teatro de rua mais afamado da região.

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Organização espera cerca de três mil espectadores e na cozinha já se ensaiam as receitas do V Congresso do Bacalhau.

É já no sábado, 2 de Abril, que a população do Soutocico, freguesia de Arrabal, volta a enterrar o bacalhau, naquela que é talvez a tradição pagã mais afamada do concelho de Leiria.

O Enterro do Bacalhau acontece de quatro em quatro anos desde 1992. Antes disso há registo da primeira edição em 1938 e de mais quatro: 1976, 1977, 1980 e 1983. O interregno entre a primeira e a segunda deveu- -se à sua proibição pelo regime de Salazar.

A recuperação desta tradição é da responsabilidade do Clube Recreativo e Desportivo do Soutocico, que assume desde então a organização e promoção do Enterro do Bacalhau que envolve toda a população da aldeia e, este ano, também voluntários de colectividades vizinhas.

O início do cortejo está marcado para as 21 horas e tem cerca de duas horas de duração, mas para não perder fio à meada e entrar no espírito, o melhor é chegar a partir das 19 horas para comer e beber as iguarias da terra à disposição de todos os visitantes no pavilhão do clube que foi transformado num mega restaurante.

A organização acredita chegar aos 3 mil visitantes este ano, por isso, o melhor é mesmo chegar cedo para dar tempo de forrar o estômago antes do tão aguardado funeral.

Os preparativos, que já começaram em Novembro, “são muitos e exigentes, mas a vontade de levar mais longe o nome de toda uma população é o bastante para que todo um lugar se una e ponha mãos à obra.

Cada um com uma missão específica e todos com um o mesmo objectivo”, explica a organização. “Assim se consegue todos os quatro anos trazer à rua um imponente espectáculo teatral, absolutamente amador.”

São 300 figurantes, distribuídos entre padres, freiras, carpideiras, bispo, sacristão, coveiro, pescadores, varinas, padeiros, cangalheiros, músicos e tochas que protagonizam o cortejo fúnebre ao longo de um percurso de 1,5 quilómetros pelas principais ruas da aldeia.

Durante a marcha há quatro paragens para leitura dos sermões (Vida e Morte do Bacalhau, Testamento do Bacalhau, Exéquias do Bacalhau e Queima do Judas) que contextualizam toda a trama, ao mesmo tempo que satirizam o país, as suas fragilidades e responsáveis.

Termina com a Queima do Judas (rebentamento do Judas que está pendurado numa braça de figueira até à sua morte) uma figura bíblica que encerra em si o simbolismo da traição, tema central de toda a encenação que leva ao julgamento à morte do Bacalhau, o “fiel amigo” do povo.

O cortejo é feito ao som da marcha fúnebre de Chopin, dos cânticos de padres, freiras e noviças, varinas, pescadores e, claro, de muito choro das carpideiras de serviço.

À encenação teatral segue-se um convívio acompanhado de boa musica, bar e restaurante pela noite dentro.

Tudo junto representa para a população local e espectadores “uma experiência única”, garante a organização...

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