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Teatro: “O que é ser bruxa? O que é ser mulher?”
Igreja de São Pedro recebe espectáculo da companhia Bestiário que evoca “o maior femicídio da história ocidental”

A estreia ocorreu em Lisboa, há menos de um ano. Nós somos as netas de todas as bruxas que vocês não conseguiram queimar tem direcção artística e dramaturgia de Teresa V. Vaz e é um projecto nascido do colectivo Bestiário, que existe desde 2018 e procura investigar a herança cultural reavivando histórias biográficas e populares.
Agora em Leiria, o espectáculo co-criado e interpretado por António Bollaño, Francisca Neves, Joana Petiz e Lia Vohlgemuth, coprodução do Teatro José Lúcio da Silva, com o Festival Temps d’Images e o Teatro Cine de Gouveia, vai ocupar a Igreja de São Pedro, junto ao castelo, numa apresentação agendada para esta sexta-feira, 12 de Setembro, pelas 21:30 horas. Para maiores de 14 anos e com entrada livre.
“Quarenta a cinquenta mil mulheres foram mortas durante o período da caça às bruxas”, avança a nota de divulgação. “Recorrendo ao arquivo vivo dos vários corpos femininos e à implicação dos mesmos na sociedade actual, num olhar comparativo com o maior femicídio da história ocidental aproveitamos para mover placas tectónicas significacionais: O que é ser bruxa? O que é ser mulher?”
Nos últimos dias, a companhia abriu inscrições para integrar 45 voluntários na cena final.
“Irão participar num dos momentos finais da performance” em que “três das intérpretes saem da igreja” perante “uma multidão enfurecida”, explica Teresa V. Vaz. “É uma alusão directa ao que acontecia nos julgamentos públicos levados a cabo pela inquisição durante o período da caça às bruxas, onde a população se juntava para assistir às condenações das vítimas”.
Na sinopse, é referido que a última mulher a ser sentenciada por bruxaria na Europa morreu em 1782, na Suíça. “Estas mulheres, que diferiam do padrão de feminilidade vigente, eram uma ameaça ao poder e tinham que ser aniquiladas”.
Para a Bestiário, importa reflectir “sobre o significado que o conceito bruxa ganhou a partir das lutas feministas dos anos sessenta e do seu reflorescimento actual”. Porque, “por todo o mundo, mulheres continuam a ser perseguidas e mortas”.