Sociedade

“Todos os europeus são vítimas do que aconteceu em Paris” - Emílio Rui Vilar

26 nov 2015 00:00

Administrador não executivo da Fundação Gulbenkian diz que o que aconteceu em Paris foi um atentado aos nossos valores. Entende que a Europa minimizou os acontecimentos que se seguiram à Primavera Árabe e não avaliou correctamente o quadro geopolítico

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Raquel de Sousa Silva

Defende que mecenato e filantropia não são o mesmo que responsabilidade social das empresas. O que as distingue?
O mecenato pode incluir-se na responsabilidade social, mas esta não se esgota no mecenato. A definição geralmente consagrada de responsabilidade social defende que as empresas são responsáveis pelos impactos, positivos e negativos, da sua actividade, não apenas junto dos trabalhadores, dos clientes e fornecedores, mas também na comunidade. Portanto, devem organizar-se e estruturar- -se de maneira a minimizar os impactos negativos da sua actividade. Isto é particularmente relevante em áreas como o ambiente.

As empresas portuguesas estão, de facto, conscientes da importância de uma aposta consistente na responsabilidade social?
As grandes empresas, até por força das recomendações em matéria de corporate governance, têm vindo a incluir nos relatórios um capítulo dedicado à responsabilidade social. Gradualmente, é uma ideia que se está a afirmar no interior das empresas, que têm a preocupação de demonstrar junto dos seus públicos que a responsabilidade social é uma das componente da sua actuação.

Muitas vezes, a fronteira entre responsabilidade social e aquilo que são acções de marketing é ténue…
As preocupações de imagem, de comunicação e de conquista de quota de mercado através de marketing indirecto fazem com que essa fronteira não seja, muitas vezes, fácil de distinguir. Por isso é que defendo que aquilo que é mecenato e filantropia deve ser uma decisão dos accionistas e não da gestão, na medida em que implica dispor de uma parte dos lucros.

A responsabilidade social é a área de actuação da Fundação Gulbenkian…
Sendo uma instituição sem fins lucrativos, a fundação tem uma lógica de actuação muito diferente da das empresas. Praticamente tudo o que faz é responsabilidade social. Toda a sua actividade é dirigida à realização do bem comum, através de intervenções muito diversas em áreas muito diferentes. As fundações não se podem colocar no mesmo plano das empresas, cujo objectivo é o lucro, a remuneração dos capitais nelas investidos.

Como analisa o contributo da fundação para o desenvolvimento da sociedade portuguesa?
A Fundação Gulbenkian é uma instituição ímpar no nosso País, uma das maiores na Europa. Nestes 59 anos tem tido uma actuação extremamente relevante em múltiplos domínios. Devem distinguir- se dois períodos: antes da democracia, em que teve um papel de abertura e de compensação de um Estado que, além de ter poucos recursos, era autoritário e sem abertura ao exterior. A fundação permitiu que muitos portugueses estudassem lá fora, através das suas bolsas, e permitiu a vinda a Portugal de muitas pessoas que trouxeram novas ideias e pensamentos. Nesse período a fundação deu um enorme contributo para a modernização da sociedade portuguesa. No segundo período, em especial depois da integração na então Comunidade Europeia, em que o País conheceu uma situação financeira totalmente diferente, com todos os apoios recebidos, o papel da fundação foi muito mais dedicado a criar condições de futuro do que propriamente a suprir necessidades, visto que o Estado pôde dispor de mais meios e a própria sociedade civil se desenvolveu de uma maneira muito diferente.

A crise ditou cortes nos apoios que a fundação concede?
A fundação respondeu à situação de crise com o reforço da sua intervenção nas áreas sociais. Lançou, por exemplo, o movimento Portugal Solidário, em que além do seu contributo dinamizou outros para acorrer a situações de emergência em todo o País. Lançou  igualmente um conjunto de programas de inovação social para  ajudar a sociedade a encontrar novas formas de responder às consequências da crise.

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