Desporto
Últimas chuvadas criam percurso de águas bravas em Mira de Aire
Grupo de Tomar aproveitou correntes do Poio para fazer canoagem.
No passado sábado, logo pela manhã, Miguel Carvalho saiu de casa munido da sua máquina fotográfica. Residente desde sempre em Mira de Aire, queria aproveitar o belo dia de sol para ter oportunidade de tirar umas chapas à “mata” cheia de água.
O fenómeno, que antigamente era comum, já não acontece com tanta frequência e intensidade, pelo que qualquer amante da fotografia e da natureza não perde a oportunidade de registar o polje de Mira-Minde, na fronteira entre os concelhos de Porto de Mós e de Alcanena, em todo o seu absoluto esplendor.
Miguel Carvalho não tem mais do que 30 anos, mas diz que ainda é do tempo em que a “mata” enchia. “As árvores focavam totalmente cobertas pela água”, recorda. Para lembrar-se dos bons velhos tempos da meninice, deslocou- se aos principais locais de onde brota a água que abastece o polje, tanto do lado de Minde, como de Mira de Aire.
Viu indivíduos a fazer mergulho, outros a fazer canoagem. Um mundo de gente a aproveitar aquele mar interior cheio de vida. E foi quando se preparava para regressar a casa, estava na nascente do Poio, a uma centena de metros do centro da vila, quando é surpreendido.
“Um grupo de pessoas com kayaks aparecem por detrás de umas árvores. Chegam ao pé de mim, são de Tomar, e dizem que já ali estiveram algumas vezes. Aproveitei e fiquei mais um bocadinho, que acabou por tornar-se numa hora e pouco.”
É mais um encanto do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. Na “mata”, a água é calma. Naquela nascente, após toda a chuva das últimas semanas, a “corrente é muito maior”. E foi ver aquela rapaziada a divertir-se.
“Entretiveram- se um bom-bocado, com o kayak e a mergulhar. E eu aproveitei para tirar estas fotos. É uma maravilha da natureza que é importante divulgar.” Artur Santos é um dos fotografados por Miguel Carvalho.
Pertence ao Grupo Desportivo Nabância, um clube de canoagem de competição e lazer, sediado em Tomar. Ainda no Verão passado tinha estado no polje, mas para uma actividade radicalmente diferente, uma “caminhada por este local soberbo”.
Também já tinha levado o kayak até lá, em 2014, a última vez que houve água em fartura. “É lindo, espectacular e até tem ondulação. Foi muito divertido.” Vê um “potencial enorme” para todo aquela “maravilha” e as águas correntes do Poio são apenas mais um aliciante.
Só tem pena que só ganhem caudal muito esporadicamente, quando São Pedro entende. “Por isso, só dá para umas brincadeiras, mas a quantidade de actividades que se podem fazer nesta região são enormes.
Seco dá para bicicletas e passeios pedestres. Cheio de água serve para mergulho, fotografia subaquática e canoagem. Em 2014, até windsurf lá vi!”
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O que são o Polje e o Poio?
É uma depressão com fundo plano, repleta de nascentes temporárias causadas por vários ribeiros que se perdem no solo. Um monumento único, característico das regiões calcárias, a separar a serra de Santo António da serra de Aire.
Designado localmente por “mata”, o polje de Mira-Minde é o maior da região, tendo 4.000 metros de comprimento e 1.800 metros de largura máxima. No Inverno, enche-se de água originando um grande lago em que espécies florestais e animais se desenvolvem.
Se estiver alguns dias sem chover, a água desaparece, drenada pelas nascentes dos rios Lena, Alviela e Almonda. É um dos trinta locais em Portugal classificados pela Convenção Internacional das Zonas Húmidas como um sítio RAMSAR (zona húmida de importância internacional). Segundo a Sociedade Portuguesa de Espeleologia, a cheia na “mata” é alimentada por quatro nascentes: Regatinho, Contenda, Olho de Mira e Poio.