Sociedade
Um emprego de Verão aos 84 anos
Silvina Francisco, vendedora de bolas de Berlim há mais de 60 anos em São Pedro de Moel.
Quando se fala em trabalhos de Verão, pensa-se nos jovens que, em períodos de férias escolares, querem trabalhar para começar a juntar algum dinheiro. Mas Silvina Maria Francisco tem 84 anos e um trabalho de Verão: é vendedora de bolas de Berlim na Praia de São Pedro de Moel, Marinha Grande.
Apesar de a idade já não a querer deixar continuar a trabalhar, a força de vontade e a necessidade vencem. Há mais de 60 anos que o faz. Mas, nos últimos anos, as pernas, já cansadas, obrigaram-na a arranjar um cantinho junto ao areal para continuar a actividade sentada, ao invés de andar pela praia como fez durante muitos Verões.
“Olha a bola de Berlim!” – é a frase que mais se ouve nas praias portuguesas, dita pelos vendedores que com eles carregam caixas destes e outros bolos, de uma ponta à outra dos areais. Em São Pedro de Moel, Silvina Maria Francisco, vestida de bata branca e protegida por um chapéu-de-sol, senta-se numa cadeira diante de duas caixas cheias de bolas de Berlim, com e sem creme, que (quase) todos os dias vêm da Nazaré.
Aqui, são os veraneantes que se deslocam junto da vendedora. Sabe que “não se vende tanto”, mas os problemas de saúde não lhe permitem continuar a andar pela praia como sempre fez.
Silvina Francisco completou 84 anos no passado dia 5 de Agosto. E este, que devia ser um dia de alegria, não o é para esta vendedora de bolas de Berlim. “Não tenho ninguém”, lamenta.
Neste dia vêm-lhe à memória – e apenas à memória, sem registos fotográficos – as recordações dos bons tempos que viveu em família, com a casa cheia em dias de aniversário. É viúva há vários anos, tem filhos, netos e bisnetos, mas não tem contacto com nenhum deles.
Nasceu em Albergaria, Marinha Grande, e foi viver para São Pedro de Moel com cerca de cinco anos de idade. Trabalhou numa vidreira, mas cedo se viu obrigada a pedir a reforma, derivado a problemas de saúde. Mas não cruzou os braços. “Precisava de continuar a ganhar dinheiro”, afirma. Foi então que decidiu começar a vender bolas de Berlim pelo areal da praia de São Pedro de Moel.
Silvina Francisco recorda que passou tempos muito difíceis. Sem sítio para viver, construiu uma “barraca” com o que tinha à sua disposição. “Sacos, ripas de madeira… Depois ia tomar banho ao rio”, lembra. Só anos mais tarde é que conseguiu alugar uma casa, na qual vive até hoje, junto ao Hotel Mar&Sol. O caminho de casa para a praia, é feito pelo próprio pé. Já no de regresso, por ser de subidas íngremes, vai à boleia de alguém.
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