Viver

Uma proposta em Sófia

30 abr 2016 00:00

Bulgária, 1994

(Fotografia: DR)
(Fotografia: Dennis)
(Fotografia: Dennis)
(Fotografia: Dennis)
(Fotografia: DR)
(Fotografia: DR)
(Fotografia: DR)

Naquele dia foram poucos os passageiros que em Salónica subiram para o comboio que tinha como destino Bucareste. Na minha carruagem somos apenas oito, contando comigo. Pude conhecê-los todos, embora me concentrasse em duas torres de pele muito branca e faces avermelhadas pelo sol grego.

Eram o mais interessante que havia dentro do compartimento, ainda que só chegasse à fala com as norueguesas Ingrid e Karen quando o comboio se imobilizou (mais de uma hora sem que ninguém explicasse porquê) próximo da fronteira búlgara.

Na capital búlgara, nova pausa, agora devidamente assinalada. Como era hora de jantar, concordámos em procurar juntos um restaurante. Vimos uma pizaria reluzente nas imediações da estação, então sentámo-nos. Uma empregada entregou-nos uma ementa em cirílico, o que foi o mesmo que servir um bife a um vegetariano.

A nosso pedido voltou com outra redigida em inglês, cinco minutos depois. Não soubemos onde a foi buscar. Terry (seria esse o seu verdadeiro nome?), apresentou-se no final da refeição. Bem apessoado, eloquente, pediu licença para nos fazer companhia. Não encontrámos motivo para recusar.

Já o porquê de escolher a nossa mesa não parecia claro. Quer dizer, explicou, como éramos estrangeiros talvez precisássemos de orientação. Mas ele não era búlgaro, pois não?... — quisemos saber. De facto era americano, mas vivia há dois anos em Sófia, até já falava menos mal a língua do país. Ah, aproveitava para revelar: era o dono do restaurante. As nossas refeições eram oferta sua. Recusámos. Mas a uma bebida, não dizíamos que não? Aceitámos.

Em viagem, cortesias por parte de desconhecidos são mais frequentes do que se possa supor. Todavia não consigo deixar de pensar que tanta amabilidade esconde alguma coisa. O quê? Não sabia Mesmo com reservas, uma hora depois de conhecer Terry, aceitei que orientasse a minha breve estadia na cidade.

Mas primeiro acompanhei as norueguesas ao comboio. Quando regressei tinha um belo Mercedes à minha espera. Virando ora à direita ora à esquerda, chegámos a uma rua com árvores frondosas e prédios cuidados, apesar de não serem novos. A dado momento o Mercedes perdeu velocidade, encostando à berma. Cumprindo a promessa, Terry levou-me até uma casa particular, habitada por uma idosa. Mostraram-me um quarto grande com estuques no tecto e o soalho encerado. 

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