Sociedade

Urgências de Leiria com o maior tempo de espera da zona Centro no pico do Inverno

23 ago 2024 10:00

Doentes esperaram uma média 11 horas para serem vistos por um médico

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Tempo de espera da pulseira amarela não deve exceder os 60 minutos
Ricardo Graça

O Serviço de Urgência Geral do Hospital de Santo André, em Leiria, foi aquele que pior resultado registou na zona Centro, durante o pico do Inverno. A denúncia foi feita pela Secção Regional Centro (SRC) da Ordem dos Enfermeiros (OE), que revelou que os doentes esperaram uma média de 11 horas para serem observados por um médico. 

Segundo uma nota de imprensa, a SRC realizou uma visita a 21 serviços de urgência (SU) da região Centro no dia 12 de Janeiro de 2024, no pico do inverno, num contexto de “elevada incidência de infecções respiratórias agudas na comunidade e que, há semanas, mantinha os SU sob grande pressão”.

A visita, que excluiu as urgências obstétricas, ginecológicas e pediátricas, deparou-se com um tempo de espera médio entre triagem e observação médica em pulseiras amarelas de 11 horas em Leiria, quando o tempo máximo é de 60 minutos. O tempo médio dos outros serviços de urgência foi de 83 minutos, embora quatro não registassem qualquer espera.

“Aveiro foi o SU com maior afluência de utentes, sendo que o Hospital Universitário de Coimbra era a unidade com mais enfermeiros. O Serviço de Urgência Médico-cirúrgica de Caldas da Rainha foi aquele que teve melhor resposta instalada face à procura registada, enquanto São João da Madeira e Águeda registaram a pior resposta”, adiantam as conclusões da Ordem dos Enfermeiros, ao referirem que o hospital de Caldas da Rainha apresentou dos melhores rácios com cerca de dois utentes por cada enfermeiro.

As visitas foram realizadas a dez Serviços de Urgência Básica, a nove Serviços de Urgência Médico-cirúrgica e a dois Serviços de Urgência Polivalente.

Foram objecto de avaliação o número de admissões das últimas 24 horas, as prioridades atribuídas pelo Sistema de Triagem de Manchester (STM), os tempos de espera para a 1ª observação médica, a existência de equipas de transporte, de protocolos vias verdes (Sépsis, AVC, Coronária e Trauma) e de protocolos de reavaliação/retriagem de doentes e ainda a permanência de doentes há mais de 24 horas nos SU e as dotações de enfermagem.

“Quase 600 doentes estavam há mais de 24 horas nos SU, destacando-se pela negativa Guarda (59 utentes), Caldas da Rainha (36 utentes) e Leiria (34 utentes) entre as 24 e as 48 horas, dos quais, 83 aguardavam há mais de dois dias no SU”, adianta a Ordem dos Enfermeiros.

Guarda e Leiria “mantêm o retrato negro nesta categoria, com 23 e 21 utentes, respectivamente”.

Segundo a OE, quando o número de doentes no SU é elevado, os utentes permanecem internados em espaços “sem vigilância” de enfermeiros, não existindo “condições mínimas de segurança”.

“Quando existem tempos de espera para a primeira observação médica que ultrapassam as 20 horas, é impossível assegurar dotações de enfermeiros que consigam retriar/reavaliar todos os doentes, sempre que o tempo de espera excede o limite previsto, como determina a norma 02/2018 da Direcção-Geral da Saúde”, refere o documento.

A Ordem dos Enfermeiros justifica que a divulgação destes dados surgem agora quando se aproximam o Outono e o Inverno, um momento propício a doenças respiratórias, com impacto nos serviços e equipas de profissionais. O objectivo é “perceber os problemas instalados, aliás, há vários anos a esta parte, onde os riscos para com a qualidade e segurança de cuidados a prestar estão mais vincados”, assinala Valter Amorim, presidente do Conselho Directivo da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros, citado na nota de imprensa.