AUTÁRQUICAS 2021
Valdemar Alves rejeita recandidatura à Câmara de Pedrógão Grande
Nome do actual presidente tinha sido aprovado pela concelhia, mas rejeitado pela distrital. Agora, é o próprio que sai da corrida.
O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves (PS), não se vai recandidatar nas próximas eleições autárquicas, justificando a decisão com o abandono da região do Pinhal Interior pelo Poder Central.
A sua recandidatura tinha sido aprovada pela Concelhia do PS de Pedrógão Grande, mas o nome não passou no crivo da Comissão Política Distrital do Partido Socialista. Agora, é o próprio que sai da corrida.
“Candidatar-me seria pactuar com o ato de abandono do Poder Central em relação a toda esta região do Pinhal Interior, a que se assiste há décadas, e que se mostra imperdoável depois dos trágicos acontecimentos de 2017”, afirma Valdemar Alves, num comunicado enviado à agência Lusa.
No comunicado, Valdemar Alves refere que, no último mandato e na sequência dos incêndios de 2017, procurou “sensibilizar o Poder Central para os grandes desafios que se colocavam, e colocam, a este território, perante as circunstâncias de aqui residir uma população envelhecida e serem fracos os meios financeiros para permitirem cumprir com os grandes objectivos de combate ao abandono e à inexistência de desenvolvimento tão imperiosos para esta região”.
“Confesso que, para além de presenças de representantes do Governo e outros altos dignitários do Poder Central em momentos que assinalavam a tragédia por que passou o território, assistimos à instalação em Pedrógão Grande de uma Unidade de Missão (entretanto extinta), cujos trabalhos não tiveram efeitos práticos visíveis na alteração das circunstâncias de vida em toda a zona do Pinhal Interior, tanto mais que os recursos financeiros alocados pelo Estado Central aos grandes desafios que a situação colocava não tiveram materialidade assinalável”, sustenta.
Para o presidente da Câmara, esta realidade mostrou que o seu empenhamento “não teve o mérito de mobilizar os responsáveis do Poder Central para a concretização, ainda que de pequenos sinais, de um caminho que permitisse colocar este território no mapa do desenvolvimento”, pelo que considera “não estarem reunidas as condições” para aceitar o convite do PS para se recandidatar.
A decisão agora tomada “foi bastante influenciada” pelo facto de, na experiência que teve “no contacto com os mais diversos membros do Governo ao longo dos últimos anos, sentir consolidada a ideia de que seria possível combater a desertificação e criar condições para um forte desenvolvimento económico deste território sem o apoio substancial do Estado Central”.
“Tal situação frustra totalmente as legítimas expectativas das populações, uma vez que os problemas das pessoas e do território não se resolvem apenas com algumas reuniões de trabalho sem consequências práticas e com a presença efectiva dos mais altos responsáveis do Estado nos aniversários de Junho de 2017”, declara o autarca.
No entender de Valdemar Alves, prolongar no tempo a ideia da possível recandidatura “seria contribuir para a criação da ideia da existência de verdadeiras medidas de combate ao abandono deste território e das suas gentes”, destacando que, ao anunciar esta decisão, tem a forte expectativa de que “ela ajude os mais altos responsáveis deste país a entenderem que este território, altamente desertificado e com a sua população envelhecida, não pode ser continuadamente votado ao abandono”.
“Entenda-se também esta minha decisão de não me recandidatar como um grito de revolta perante este estado de coisas”, acrescenta Valdemar Alves, que nada diz no comunicado se nela pesou o chumbo do seu nome por parte da federação ou o facto de estar acusado em dois processos relativos aos incêndios de Pedrógão Grande (nas alegadas irregularidades na reconstrução de casas, em julgamento, e no processo sobre eventuais responsabilidades nas mortes e feridos daqueles fogos).
Valdemar Alves foi eleito presidente da Câmara de Pedrógão Grande em 2013, então na lista do PSD, partido que na altura conquistou três dos cinco mandatos.
Nas eleições autárquicas de 2017, encabeçou a lista do PS, como independente, tendo os socialistas alcançado três dos cinco mandatos.