Sociedade

Zé Oliveira: "Na topografia não podemos mentir. E no cartoon também não. Um cartoonista exagera, mas não mente"

22 mai 2017 00:00

Desenhos, lápis azuis e encontros com Quino e Mordillo na Impressão Digital desta semana.

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Não há cartoon sem humor?
Há! O cartoon é uma crónica gráfica, quase sempre em registo satírico, mas por vezes com excepções. Mas, em qualquer circunstância, tem de exprimir uma ideia muito clara. Não pode ser hermético. 

E quando ninguém percebe a piada?
É grave! Significa que o editor está a ser ludibriado por um pseudo-cartoonista. 

Todo o cartoon nasce de um olhar malandro?
Não. É verdade que nasce de um olhar – já Leal da Câmara dizia que caricaturar é sentarmo-nos à beira do caminho a ver quem passa – mas de um olhar construtivo. Pela via da denúncia dos malandros, isso sim. 

Foi topógrafo uma vida inteira, mas publica desenhos na imprensa há cerca de 50 anos. Destas duas actividades, qual tem mais a ver consigo, com a sua personalidade, com a sua pessoa?
Ambas por igual. E acrescento a actividade da escrita. Hoje em dia restringida à crónica e à preparação de um livro de investigação no domínio da caricatura.

E quando não veste nenhum desses fatos, o que é que o distrai? Hortas e trabalhos de bricolage?
A horta, infelizmente, ressente-se muito da minha constante falta de tempo. Pela mesma razão, bricolage quase não faço, com muita pena. O que me distrai? O trabalho. A minha sorte é trabalhar em actividades que me dão muita satisfação. Terminei de desenhar há poucos dias as caricaturas para uns livros de curso para as academias de Coimbra e Lisboa e tenho nesta altura em mãos um absorvente e demorado projecto gráfico leiriense do qual não devo dar detalhes. Eis o que me distrai!

Podemos dizer que a topografia vive do rigor e da minúcia enquanto o cartoon precisa de excesso e liberdade?
Na topografia não podemos mentir. E no cartoon também não. Um cartoonista exagera, mas não mente. É claro que o cartoonista hiperboliza. Acentua os traços, quer do ponto de vista gráfico, quer do ponto de vista do conteúdo subjacente. Porém, ao cartoonista não cabe a prerrogativa do excesso de liberdade, porque esse excesso não é direito de ninguém. No dia em que a liberdade for praticada de modo excessivo, deixa de ser liberdade. Passa a ser prepotência. O cartoonista tem de ter limites: os da ética e os do bom senso. 

E o Zé Oliveira é mais da minúcia ou do excesso, enquanto pessoa?
Na topografia, aprendi que a minúcia deve ser praticada consoante a necessidade de cada circunstância. O meu excesso é o trabalho. E, o que é pior, até gostar disso!

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