Opinião

2024, Ano Olímpico – Jose Caetano - formador

21 jan 2024 16:31

Ano após ano milhares de pessoas movidas quase em exclusivo por uma paixão irracional trabalham incansavelmente para que as nossas pistas tenham vida

2024 já chegou e com ele os Jogos Olímpicos. Em tempos conturbados como os que atravessamos talvez seja apenas uma curta pausa das guerras e clamores que atravessam o nosso mundo, mas ainda assim uma altura para recordar que o desporto tem o poder de unir as pessoas na celebração dos valores sagrados do olimpismo (excelência, amizade e respeito) celebrados universalmente pelo Comité Olímpico Internacional.

Durante quase 3 semanas teremos nas capas dos jornais e nos destaques noticiosos nacionais caras que até aqui permanecem no quase anonimato e que, à exceção de alguns possíveis medalhados, a ele voltarão findos os Jogos e depois das habituais críticas que nessas alturas castigam os treinadores, atletas e dirigentes vindas de quem não tem a mínima noção da realidade desportiva nacional.

Nesse contexto e fazendo jus à condição de modalidade rainha dos Jogos também em Portugal, pelo número de atletas que leva e por ser a única modalidade que até hoje nos trouxe medalhas de ouro (5), o atletismo vai ser naturalmente o mais falado, o mais dissecado e o mais castigado. No entanto, citando Galileu, ele move-se.

Ano após ano milhares de pessoas movidas quase em exclusivo por uma paixão irracional trabalham incansavelmente para que as nossas pistas tenham vida, movimento, emoção e sejam uma escola de vida e uma fábrica de sonhos para muitos jovens que ambicionam um dia competir com os ídolos do presente e emular os ídolos do passado. E é nessa realidade que passa despercebida ao comum dos cidadãos que se forjam os campeões posteriormente celebrados, embora não tanto como merecem.

Vem isto a propósito de 2024 ser também o ano em que se completam 40 anos sobre a primeira medalha de ouro de Portugal obtida em Los Angeles na maratona por Carlos Lopes. Um atleta enorme que tantas alegrias nos deu e que a par do prof. Moniz Pereira revolucionou a modalidade entre nós e lhe deu palco mundial.

Por isso me causa estranheza que passado tanto tempo ainda ninguém ligado ao mundo do desporto e ao mundo editorial tenha escrito uma biografia daquele que é um marco incontornável do nosso desporto. Pela riqueza do seu currículo, pela extensão da sua carreira e pela diversidade e picaresco de algumas das histórias que foi contando em entrevistas que ocasionalmente deu aos jornais e à televisão, percebe-se um potencial imenso de vivências e lições de vida que deviam ficar registadas e documentadas para a posteridade.

Bem sei que entre nós não se cultiva o género como nos países com maior cultura desportiva, mas se nos queremos comparar em tantas coisas com o que se passa lá fora porque não tratarmos quem nos levou aos degraus mais altos do Olimpo com a dignidade e o respeito que nos merecem outras figuras da cultura. Sim, porque desporto também é cultura.