Opinião
A agressão, essa coisa, às vezes tão estúpida!
Na agressividade verbal manifestada por alguns políticos nas redes sociais contra os que não gostaram do chumbo do orçamento, eu não vejo nada
Um certo dia, foi-me enviada para a “oficina do comportamento” (um espaço pedagógico que criei para ajudar os alunos a melhorarem a sua forma de estar na vida e na escola) uma aluna por andar a relacionar-se com os professores de uma forma muito agressiva.
E eu, como habitualmente, peguei no que aprendi como professora para formar crianças e toca de a pôr a falar.
Falou da sua complicada vida familiar, falou de como se sentia constantemente ofendida e “agredida”, nas aulas por determinadas professoras e na escola por colegas e depois calou-se, olhou-me fixamente e de rajada, perguntou-me: “Professora, no meu caso, diga-me, o que faria?”
Querida adolescente, se queres saber, se eu tivesse a tua vida, eu faria muito pior do que tu, pensei para mim, mas claro não foi essa a resposta que lhe dei!
Acrescentei ao que aprendi nas ciências da educação alguns procedimentos heurísticos e à volta dos conceitos de agressividade e de adaptabilidade pusemo-nos à conversa.
Falámos de como somos por vezes tão infantis e imaturos quando, para exigir o que queremos do outro, recorremos à agressividade.
De como nos parecemos com os animais quando a sentimos como o único recurso que temos para defender o nosso território.
De como ela se instala no comportamento de uma pessoa que, completamente voltada para si mesma e para as suas características, fica incapaz de reconhecer a legitimidade do território dos outros.
Fatalmente imersos, durante as nossas vidas, num oceano feito de territórios alheios questionámo-nos sobre o que fazer para nos sentirmos a viver melhor nessas águas: agredindo, constantemente, os outros ou adaptando-nos a eles com empatia e assertividade?
Lembrei-me desta querida miúda quando me apercebi da agressividade com que alguns políticos reagiram, nas redes sociais, perante as opiniões deixadas por cidadãos manifestando a sua insatisfação com o “chumbo” a que os seus partidos sujeitaram o último Orçamento de Estado.
De facto, não ando a conseguir identificar nem a causa dessa agressividade nem a respetiva utilidade de tal coisa!
É que no caso da aluna com que trabalhei, filha de uma prostituta, muito querida, mas sem recursos ou capacidades para ter uma criança ao seu cargo, e de um pai proxeneta e negligente, eu “vi” essa causa e percebi, para aquela criança, qual a sua utilidade: perante a ausência total de comportamentos de referência e de uma adequada liderança de um adulto, sentindo-se, desde pequenina, responsável pela sua sobrevivência, andava, afinal, a portar-se como se portam os animais!
A sua postura constantemente agressiva era a estratégia por ela sentida como a mais eficaz para dominar os outros e assim se defender, antecipadamente, de qualquer ataque vindo do meio familiar ou escolar.
Ora, já na agressividade verbal manifestada por alguns políticos (felizmente poucos) nas redes sociais contra os que não gostaram do chumbo do orçamento, eu não vejo nada! Nada de nada, nem a causa nem a utilidade, apenas uma estúpida agressividade.
Uma estúpida agressividade? Sim, é isso!
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990