Opinião
A América de Trump
A Europa vive muita focada nas suas questões internas, o que é bem demonstrativo da sua incapacidade de se constituir como um forte bloco
Nas últimas semanas foi o tema da agenda internacional, com muita conversa e pouco acerto, como se verificou pelo resultado final, que consagrou Donald Trump como vencedor e próximo Presidente dos EUA.
Tem sido interessante o ajustamento do comentário, pois parece que agora todos adivinhavam o que aconteceu, contrariamente à incerteza que caracterizou esta eleição americana.
Não sendo especialista em política internacional nem nos assuntos norte-americanos, foi-me relatado há alguns meses, por um grupo de portugueses residente há muitos anos nos EUA porque é que a possibilidade, nesse momento ainda com Biden na corrida, duma vitória de Trump, não era disparatada.
Temos que perceber que o sistema eleitoral norte-americano tem um processo duro e longo de escolha dentro dos partidos, republicano e democrata, mas no final os eleitores apenas vão ter que escolher entre duas personalidades.
E o que esses amigos anteviam, e que agora se concretizou, é que muitos eleitores norte-americanos não iriam votar em Trump por convicção, mas sim por falta de opção a somar ao grande descontentamento com a governação democrata de Joe Biden.
É claro que também não é despiciendo o forte apoio, entusiasta mesmo, duma parte significativa do eleitorado, devido ao registo de “self made man” que Trump representa e pelas suas propostas populistas, como por exemplo a questão da imigração. Não foi capaz Kamala Harris de potenciar a onda de entusiasmo que se criou com o anúncio da desistência de Biden e do apoio massivo dos democratas à sua candidatura.
Começou bem, mas foi notória a sua incapacidade para aproveitar um momento político único, designadamente quando a candidatura de Joe Biden prenunciava uma derrota humilhante.
Por cá, pela Europa, surpreende que não se tenha percebido a real possibilidade do regresso de Trump e o que isso poderá representar para as relações entre os EUA e a Europa, sejam elas de cariz económico, segurança ou outro.
A Europa vive muita focada nas suas questões internas, o que é bem demonstrativo da sua incapacidade de se constituir como um forte bloco, unido e coeso, que possa fazer frente às ameaças de alguns países com dimensão e poder, como os EUA ou a China, não sendo possível deixar de referir que o mercado dos EUA é o principal destino das exportações europeias.
E toda esta situação é tanto mais preocupante quando não vemos uma personalidade forte no conjunto dos países europeus, que possa afirmar uma liderança forte que se exige neste cenário de incerteza quanto ao comportamento de Donald Trump neste seu segundo mandato.
E que esta eleição americana possa fazer reflectir muitos dos líderes políticos, pois é bem demonstrativo de como a insatisfação com uma governação que não resolve problemas pode potenciar alternativas mais radicais, aliás como julgo ter sido um dos motivos para que em Portugal, nas últimas eleições legislativas o Chega tenha conseguido eleger 50 deputados.