Opinião
A brincar é que a gente se entende...
Dantes as crianças brincavam na rua, soltas. Aprendiam a descobrir o mundo, a resolver as suas pequenas contendas, cresciam em tamanho e aprendizagens e salvo mais joelho esfolado menos cabeça partida, a hora de brincar era a hora de brincar na rua.
Aprendiam a lidar com novos amigos, novas dificuldades e mexiam-se. Sobretudo mexiam-se e sobretudo viviam a novidade como natural. O mundo mudou, entretanto. E com ele as crianças foram ficando em casa, em ATL's, em prolongamentos de horários.
Na rua não, porque a rua se tornou perigosa, as famílias mudaram e os avós, tios e padrinhos e empregadas desapareceram do quotidiano das nossas crianças, juntamente com as famílias alargadas e as mães disponíveis com todo o tempo do mundo.
As cidades encheram-se de gente, gente trancafiada em apartamentos, em famílias cada vez menores, cada vez mais escravizadas por horários de trabalho desumanos, e as cidades esqueceram-se dos parques infantis, das zonas verdes, das urbanizações pensadas para permitir às crianças brincar na rua, com o digital a substituir insidiosamente o lugar do outro, o lugar dos cheiros, da pele, do calor e do frio, o lugar das aprendizagens feitas de ver os outros olhar, de sentir o tom da voz, de testar a sintonia entre o discurso e a atitude do outro.
Daí até à realidade actual foi um pulinho de décadas, onde andámos distraídos a ser os mais produtivos, os que tinham prestações de casa maiores e durante mais tempo, os que menos tempo tinham para viver para os outros, mesmo que os outros fossem as nossas crianças
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