Editorial
A democracia precisa de ser regada
Como se pode perceber pelo trabalho que o JORNAL DE LEIRIA publica nesta edição, os partidos políticos têm cada vez menos militantes, havendo estruturas concelhias em que os dirigentes são eleitos com ‘meia dúzia’ de votos.
Se os níveis de abstenção que se têm registado nos actos eleitorais dos últimos anos são preocupantes e indiciadores de que algo não vai bem na jovem democracia portuguesa, mais alarmante é a reduzida participação política dos portugueses, que tem vindo a diminuir drasticamente desde os anos 90 do século passado.
Como se pode perceber pelo trabalho que o JORNAL DE LEIRIA publica nesta edição, os partidos políticos têm cada vez menos militantes, havendo estruturas concelhias em que os dirigentes são eleitos com ‘meia dúzia’ de votos.
Não é que este problema seja exclusivo da política, pois é sabido que a ‘militância’ noutras organizações da nossa sociedade é actualmente substancialmente menor que nos tempos do pós 25 de Abril, quando o associativismo ganhou expressão e permitiu a criação e/ou desenvolvimento de muitas associações de referência nas mais diversas áreas.
No entanto, como é óbvio, na política esta realidade ganha contornos mais gravosos pela dimensão dos cargos a que dá acesso, ou não estivéssemos, em última análise, a falar das estruturas que escolhem os nomes de entre os quais se decide a quem entregar o poder da governação.
Ou seja, na verdade, temos hoje uma democracia assente em pés de barro, pois a sua base, que são os partidos políticos, são cada vez menos participados, levando a que os candidatos que nos são oferecidos para votar saiam de um universo cada vez mais reduzido e, na maior parte dos casos, menos qualificado.
No fundo, estamos a falar de um problema complexo, pois são várias as razões a contribuir para o mesmo, desde logo a natureza humana, avessa à mudança e agarrada ao poder, por mais pequeno que seja.
Quem está, só aceita mudanças se tudo continuar na mesma, tendo pouco interesse em abrir demasiado a estrutura a novos militantes que lhe possam vir a tirar protagonismo.
Por outro lado, quem está fora da vida política também não a olha como algo atractivo, seja porque consome tempo que é mais agradável gastar noutras actividades, seja porque não se revê na forma de fazer que ali impera, seja ainda porque os cargos políticos não são competitivos do ponto de vista da carreira e da remuneração com o que é praticado nos lugares equivalentes do sector privado.
Temos de um lado e do outro, portanto, o individualismo característico da nossa sociedade actual a sobrepor-se ao interesse público e ao dever cívico, resultando num problema que é de todos mas para o qual poucos parecem dispostos a contribuir para resolver.
Esperemos que a democracia não seja como as plantas, que quando não são regadas acabam por morrer…