Opinião

A “estátua patrícia” de Carlos Matos

6 out 2016 00:00

A estátua ao Patrício não me choca mais que, sei lá, a do Papa Paulo VI. Sendo que, pelo menos, o Patrício é um gajo dos Marrazes que é Campeão Europeu da bola e o Paulo a única coisa que fez foi ir a Fátima e passar por Leiria a acenar...

Ora bem, nada como uma clássica polémica “Bola vs Elite Intelectual” para apimentar a “reentrada” sem perdermos aquela leveza estival que, como poucas outras coisas, nos aproxima a todos da vida como ela é: efémera.

A estátua de Rui Patrício - fantástica geradora de tráfego de redes sociais e fonte inesgotável de conteúdo para caixas de comentários - é daquelas notícias que antes de o ser já o era. Bastaria a simples menção a tal ideia, mesmo que fosse mesmo só isso, uma ideia, para levantar ondas de indignação capazes de rivalizarem com o canhão nazareno. Sendo mais do que uma ideia, uma certeza, não era difícil de imaginar que a batalha digital se instalasse e, em pouco tempo, as posições se extremassem.

É natural e fica bem. A mim, sinceramente, chateia-me um bocadinho mais que, das últimas vezes que fui a Leiria, me tenha saltado à vista um claro desleixo e abandono urbano na cidade. A estátua ao Patrício não me choca mais que, sei lá, a do Papa Paulo VI. Sendo que, pelo menos, o Patrício é um gajo dos Marrazes que é Campeão Europeu da bola e o Paulo a única coisa que fez foi ir a Fátima e passar por Leiria a acenar (e há edifícios ali pertinho da imagem de Sua Santidade em que parece que ninguém tocou desde então).

Já toda a gente sabe que o mecenas da “estátua patrícia” fez uma aposta com os amigos, ganhou (ganhámos todos, porque não me lembro de ver ninguém chateado) e lixou-se na mesma. O homem, Carlos de Matos de seu nome, apostou e a obra nascerá. Não nos sai do bolso, não ocupa o lugar de nenhuma árvore (acho eu), nem é, certamente, mais horrível do que as Galerias Alcrima a caírem aos bocados.

*Editor-in-chief VICE Portugal

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