Opinião
A floresta que há em nós
Acresce a tudo isto um País cheio de decisores políticos que preferem a festa ao trabalho que dá frutos
Novo Verão, novos fogos florestais à espreita. O que mudou desde Pedrógão Grande? Ia dizer - Nada! - mas não é verdade. Seis anos depois, fora das notícias, Pedrógão Grande foi esquecido pelo Governo que não esteve presente nas cerimónias do memorial às vítimas.
Coesão Territorial sim, mas pouca… Aquilo que nos faz arder ano após ano (nem sempre foi assim, lembram-se?), mantém-se. Clima mediterrânico, o raro clima com verões quentes e secos – igual ao da Califórnia, que também arde sem parar – muita floresta e mais umas especificidades, a saber:
• muitos pequenos proprietários que - entre impostos e pagar do bolso para limpar um terreno que não é nem vendável nem lucrativo – ou não fazer nada e deixar o mato à solta, vivem um pesadelo; • a ausência de serviços de Extensão Agrária em Portugal, essa especialidade esquecida que serve para difundir conhecimento junto de agricultores e silvicultores e pode fazer com que se agrupem numa dimensão que viabilize a manutenção profissional das florestas, prevenindo os fogos florestais e trazendo rendimento; os mesmos serviços que podem prevenir as inacreditáveis mortes por acidentes com tractores por falta de formação dos condutores;
• a urgência de uma entidade reguladora entre a oferta de produtos florestais muito pulverizada e uma procura concentrada nas fileiras do papel e cortiça;
• a falta de utilização da biomassa com aproveitamento da estilha e rebanhos comunitários para limpar as matas;
• perceber que o êxodo rural é complexo, multifactorial e veio para ficar: soluções de fixação de populações são caras, demoradas e complexas;
• a necessidade de um sistema agro-silvopastoril que garanta rendimentos no curto, médio e longo prazo;
• assumir a floresta não rentável: se precisamos de espécies que demoram 50 anos a ser lucrativas, teremos de em conjunto olhar para soluções em que o quintalinho do outro é o nosso quintalinho, por mais distante que esteja de nós, e temos todos de o pagar;
• a ausência de Educação desde cedo para a cultura participativa: em casa, na escola;
• ausência de um Plano Nacional de Fogo Controlado, reduzindo a quantidade de matéria combustível.
Acresce a tudo isto um País cheio de decisores políticos que preferem a festa ao trabalho que dá frutos. A festa contenta imediatamente os eleitores, aqueles que nas próximas eleições os vão manter nos lugares do poder.
Já o trabalho que dá frutos daí a muitos anos – como quase tudo o que é estrutural, como as verdadeiras políticas de desenvolvimento – esse, é como dizem os autarcas quando se referem ao saneamento básico: “Obra enterrada não dá votos”!