Opinião

A genética do caramelo

28 jul 2016 00:00

Passados 30 segundos está de pé, a bater palmas, a rir, a chorar e a dançar segura pelos dentes. Não sei como consegue, mas consegue, acho que até já a vi a fazer-me um manguito.

Lembro-me tão bem de a minha avó dizer, meio arreliada meio orgulhosa: “o raio do miúdo é marca Cornetto!”, definindo assim os meus dotes como ser humano em construção. Não sei de onde veio tão bela expressão, e continuo sem conhecer a correlação do mau feitio com a nata e o chocolate arrumados num cone de bolacha, mas sempre gostei que ela me catalogasse como um amigo dos diab(r)etes. Isto foi, claro, numa fase antes da Ritalina, do défice de atenção e da intolerância à lactose, por isso, durante muito tempo não tive direito a drogas. Se calhar era marca corneta só que mal dito, não sei…

Sempre gostei de Cornettos… e da minha avó, que por sinal também era uma mulher, digamos com alguma condescendência, sui generis! Quero com isto dizer que o karma pode tardar mas não falha. Preparem-se, todos vocês que fizeram correr a água pela barba (ou bigode) da vossa avó, às vezes a vingança serve-se dentro de uma fralda e de um baby-grow.

A princesa, aos nove meses, parece estar com vontade de ser a nova representante desse gene torcido que eu digo que já não tenho mas que no fundo sei que como gene que é, nunca me abandonou. Aproveito toda esta dissertação sobre genética para dizer à minha mulher que a micose também vem no nosso ADN e não nos podemos livrar dela nunca. Aguenta-te, usa chinelos! Não é que o raio da cachopa decidiu agora que não está bem em lado algum e que faz o que bem lhe apetece.

Metemo-la no parque e, passados cinco minutos, começa a refilar, passamo-la para a cadeirinha atolada em brinquedos e ela diz que prefere reclamar, pegamo-la ao colo e ela desata a espernear e a esbracejar, a transpirar e a puxar-me aquele pêlo do pescoço que eu nem sabia ter e que me apercebo de forma dolorosa que tenho. Sempre munida daquele olhar do sou tão querida com este sorriso de tramada. A seguir vai para o chão para gatinhar e para se agarrar à ficha da electricidade que eu não tenho tido vagar, nestes últimos três anos, de arranjar ou para vaguear desengonçada pelo corredor.

A pena é clara e tem de ser aplicada, caminha de grades com ela. Passados 30 segundos está de pé, a bater palmas, a rir, a chorar e a dançar segura pelos dentes. Não sei como consegue, mas consegue, acho que até já a vi a fazer-me um manguito. Cheira-me que é agora que o futuro tem de ser orientado. Temos de definir quem é que manda nesta casa. - Sim, sim menina, é bom que fique claro nessa moleirinha por fechar que quem manda nesta casa é a tua mãe. E, nem ela, nem eu, vamos fazer mais do que tudo para que tu sossegues, ouviste?!! Queres uma bolachinha minha querida? Pronto, ‘tá bem, o pai dá.