Opinião
A Jornada num País a duas velocidades
Nem parece um Governo socialista, que parece ser cada vez mais de impostos máximos com serviços mínimos
Já parece ter sido há muito tempo, mas apenas passou pouco mais de uma semana da realização da Jornada Mundial da Juventude, sendo importante reflectir no seu impacto, para lá das excelentes intervenções do Papa Francisco que, julgo, excederam todas e quaisquer expectativas. E, mais uma vez, apesar de todas as polémicas iniciais, Portugal demonstrou ao mundo que sabe organizar e receber um evento desta dimensão, tendo juntado em vários momentos cerca de um milhão e meio de pessoas.
Julgo não existirem grandes dúvidas, mesmo junto dos mais cépticos, da importância de se ter conseguido a sua realização em Portugal, tendo envolvido todo o País neste grande objectivo. Para lá da actividade centralizada em Lisboa, é bom recordar que na semana anterior, um pouco por todo o País, foram sendo acolhidos os milhares de jovens que nos visitaram, com muitas actividades que acabaram por ir envolvendo toda a comunidade.
Dito isto, não restarão dúvidas da grande solidariedade e disponibilidade de todas as regiões do País nessa importante ajuda até ao dia em que se deslocaram para a capital. E que bonitas imagens fomos vendo através dos ecrãs televisivos, desde logo com a excelente recuperação urbanística do Parque Tejo e dos investimentos futuros projectos para o Município de Loures.
Entendo que será difícil ser de outra maneira, ou seja, conseguir organizar manifestações de grande dimensão que não sejam junto aos grandes centros urbanos, como já foi o caso da longínqua Expo 98. Mas se percebo isso, já não tenho facilidade em aceitar que o País se continue a desenvolver a duas velocidades, sendo os territórios do interior e de baixa densidade constantemente discriminados negativamente.
Quando tanto se propaga o contrário, até temos agora um Ministério da Coesão Territorial, não se percebe, por exemplo, que bens essenciais para a vida de qualquer cidadão, por exemplo o acesso à água ou ao saneamento, tenham tarifários elevadíssimos, ou a falta de oferta na mobilidade, sobretudo para servir os mais idosos e os mais carenciados.
Podemos juntar a tudo isto o fracasso das políticas governamentais no sentido de contrariar esta tendência centralista num País, seja do ponto de vista da captação de investimento seja no estímulo à deslocalização de pessoas para esses territórios.
Nem parece um Governo socialista, que parece ser cada vez mais de impostos máximos com serviços mínimos, pois basta observar a actual situação da Saúde, Educação ou Justiça.
E, no limite, essa arrecadação extraordinária de impostos deveria permitir uma política de subsidiariedade para com todo o território nacional, visando atenuar esta grande diferenciação, pois desta forma parece que o País continua a ser apenas Lisboa.