Opinião

Brincar às escondidas

14 jul 2023 16:33

Espero que os portugueses se cansem deste jogo das escondidas e não se esqueçam, nem perdoem, a quem nos quer fazer de parvos

Não sei se ainda hoje, num mundo cada vez mais digital, as crianças ainda se divertem a jogar às escondidas, tentando descobrir, o mais rapidamente possível, aqueles que se escondem. Ora, veio-me esta imagem à ideia para enquadrar, em sentido inverso, o relatório preliminar da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP.

Devo confessar que muito me admira, e pouca abona a favor da credibilização política e da acção parlamentar, o triste espectáculo com que a deputada Ana Paula Bernardo nos quis presentear, a todos os portugueses, através dos ecrãs das televisões.

De facto, só mesmo algum episódio de amnésia profunda pode explicar o teor da conferência de imprensa onde apresentou o relatório preliminar, pois só pode ter-se esquecido que as audições no Parlamento foram a novela do prime time televisivo, durante vários dias.

Confesso que me pareceu excessiva e pouco abonatória para a dignidade da actividade parlamentar a quantidade infindável de horas de directo a acompanhar os trabalhos da CPI nos vários canais televisivos, parecendo muitas vezes apenas para que alguns deputados saíssem do anonimato.

Contudo, e essencialmente porque só mesmo quem não quis é que não assistiu às intervenções dos interlocutores principais, não se percebe como é que a deputada socialista tentou branquear o referido relatório a favor do Governo e do seu partido. Bem, talvez seja a forma de manter o seu lugar, tentando agradar ao primeiro-ministro e secretário-geral António Costa e não beliscando o messias Pedro Nuno Santos.

Aliás, basta observar como foi acolhido no seu regresso à Assembleia da República, onde devemos recordar que só lá está porque se demitiu do Governo num dos processos políticos mais complicados para António Costa e o seu Governo, tendo arrastado consigo vários camaradas, para perceber que muitos deputados socialistas apostam nele para o futuro.

E só pode ser mesmo um País a brincar às escondidas aquele que esquece a razão do seu regresso e que não recorda a humilhante declaração que teve que proferir quando se quis “armar” em primeiro-ministro, antes do tempo, na questão da localização do novo aeroporto, merecendo um valente puxão de orelhas de António Costa.

Espero que os portugueses se cansem deste jogo das escondidas e não se esqueçam, nem perdoem, a quem nos quer fazer de parvos, pois todos tivemos a oportunidade de tomar conhecimento, com maior ou menor profundidade, do que se ia passando nas várias audições e não conheço ninguém que, por um ou outro motivo, não tivesse ficado espantado com algumas das cenas que nos retrataram, como aquelas da relatada pancadaria no Ministério de João Galamba.

Sinceramente, tenho para mim, que a maioria dos portugueses não acompanha a amnésia da deputada socialista Ana Paula Bernardo e prescinde de brincar às escondidas em áreas críticas como esta, com impacto na vida de todos nós.