Editorial
A minha é maior que a tua
Ultrapassada a euforia humorística, a discussão voltou a tomar um rumo mais sério
Um destes dias, um amigo saiu-se com esta: “Eh pá, as eleições parecem um duelo de medidas - a minha é maior que a tua!”.
Assim, de rompante, parecia que estava a contar uma piadola popular. Mas após uma pausa propositada na conversa, ficou claro que estava a propor um tema pertinente para o diálogo em tertúlia.
Queria falar das promessas em tempo de campanha eleitoral, muitas delas apresentadas sob a forma de medidas - “novas medidas”; “medidas inovadoras”; “medidas ambientais”; “medidas de rigor” … enfim, medidas para encher o olho ao eleitor.
Claro que, após reflexões mais ou menos aprofundadas, a conversa resvalou para o vernáculo.
E tudo à volta de putativos candidatos, dos mais castiços aos mais inclinados para o narcisismo bacoco, daqueles que não se poupam a esforços (nem a ridículos) para convencer os fregueses ou os munícipes que as deles são maiores que a dos outros.
E estávamos, obviamente, a falar de todo o tipo de hipotéticas “medidas”.
Ultrapassada a euforia humorística, a discussão voltou a tomar um rumo mais sério: “Já que estamos a falar de medidas, que medidas têm sido tomadas para fazer frente às alterações climáticas?”, perguntou um dos convivas.
Nova troca de argumentos - uns mais pessimistas que outros -, nova entrada de cabeça no lado mais brejeiro da conversa de café.
- “Eles prometem medidas e mais medidas, mas esquecem-se das alterações climáticas”, atirou, entre risinhos marotos, uma das mulheres do grupo.
Fez-se mais uma pausa momentânea, seguida de gargalhada geral. E a noite terminou numa desgarrada de piadas, algumas delas de fazer corar o mais singelo e impreparado candidato.
A mais suave, que aqui se pode reproduzir, versava sobre as mudanças climáticas e a sua influência nas “medidas”.
“Eles apresentam medidas, mas depois chega um pico de frio, as temperaturas alteram-se e as medidas encolhem. Por vezes, até se evaporam!”, ironizou a mulher.
As próximas autárquicas estão aí em menos de sete semanas e o facto é que as redes sociais e os cartazes de campanha já estrebucham promessas de medidas, como se não houvesse amanhã.
Umas mais sensatas que outras, mas poucas ainda com uma tónica séria num problema que parece global, mas que rapidamente se pode transformar em local: a nossa responsabilidade na mudança do clima.
E aí sim, podemos continuar a sofrer as consequências de uma estéril guerra de “medidas”, ou de uma efectiva falta de medidas.