Opinião

A valorização do acessório

13 jul 2017 00:00

Se se puder dizer que o inverso de “a montanha pariu um rato” é “da borbulha foi espremido um elefante”, fica-se com uma bela expressão para caracterizar o chamado caso 'GalpGate'.

De facto, é difícil perceber como é que um caso de reduzida relevância, comparando com tantos outros que nem chegam a ser notícia, levou à queda de três secretários de Estado que estavam, reconhecidamente, a desenvolver um bom trabalho no actual Governo e a ser importantes na dinâmica da nossa economia e na recuperação das finanças, deixando no Executivo outros elementos que fariam menos falta ao País.

Não se está, como é óbvio, a tentar branquear o que quer que seja, pois se os ex-governantes em causa erraram, têm que assumir as suas falhas, o que até se pode considerar que foi feito logo na altura, tendo , inclusive, sido pagas as despesas do que a Galp tinha, ao que parece indevidamente, oferecido.

A questão é a dimensão do que está em causa, que, salvo a existência de outra informação não pública, não deveria ser merecedora de tão gravosa consequência, sendo sabido que é mais do que comum vermos políticos e detentores de cargos públicos pelos camarotes de futebol por essa Europa fora.

Aliás, toda a gente sabe que esse tipo de convites, para o futebol e outros espectáculos, é uma prática habitual entre muitas empresas, banca e outras instituições.

Por outro lado, sendo conhecidos os valores que circulam no tráfico de influências entre as altas esferas, sempre coisa de milhões, como é bem evidente nos casos BES, Face Oculta, Operação Marquês, entre outros, é ridículo pensar-se que a Galp compraria qualquer favor com umas viagens para assistir a jogos de futebol. Mas é assim o nosso País, confunde-se o que importa com o acessório.

O Ministério Público é capaz de perder um ano a investigar um caso de tostões, facilitado por todos os intervenientes terem assumido os factos assim que a polémica surgiu, enquanto outros de grande porte se vão arrastando sem que nada de concretize, para não falar daqueles em que nem se pega e ficam impunes.

Nada a fazer, portanto, a não ser continuar na esperança de que um dia as coisas possam ser diferentes. Até lá, surgirão os secretários de Estado substitutos e outros membros do Governo cairão, na troca de cadeiras habitual que tanto penaliza a consistência das nossas governações e a continuidade das políticas.

Reduzindo a escala deste caso à nossa região, é João Vasconcelos o nome que sobressai nesta mini-remodelação, não apenas por ser de Leiria, mas também porque tinha sob sua tutela a secretaria de Estado da Indústria, onde mostrou ser um político hábil, dinâmico, criativo e empenhado, apresentando várias medidas e soluções que foram ao encontro das necessidades das empresas.

Para os empresários deste território a sua saída será, certamente, sentida com pena. Em termos pessoais, quem conhece a sua vida, sabe que pouco terá a perder, para lá do desconforto de ver o seu nome apontado.

*Director do Jornal de Leiria