Opinião
Alterações climáticas: culpa “só” dos outros?
Meu Caro Zé, Nesta época natalícia em que a mensagem (esquecida) que lhe subjaz é de Paz e Amor, assistimos, por todo o lado, a convulsões que são tudo menos pacíficas e em que se fala cada vez mais do “discurso de ódio”
Colocar no coração de cada um a mensagem original implica, antes de tudo, que se pare para pensar e cada um de nós comece por ver se está a colaborar nesta onda, se lhe é indiferente ou se, como seria desejável, se está a tentar “remar” em sentido contrário.
Esta desejável introspeção não pode, contudo, alienar-nos de tudo o que nos rodeia e, antes, deve partir da imersão no mundo para se poder contribuir para o modificar, no pequenino “grão” que todos, mas todos, podemos semear.
Um dos temas mais da “moda” são as alterações climáticas, emergindo a figurinha de Greta Thunberg. Não está em causa, pelo contrário, a urgência e a importância radical do problema que, apesar dos avisos desde Paulo VI até ao “Clube de Roma”, sistematicamente vêm sendo feitos, sem que o assunto seja tomado a sério.
Mas centrar em Greta o “combate” parece-me muito perigoso, não só pelo seguidismo quase histérico que se tem verificado, mas também pelas mensagens e pelas circunstâncias que a envolvem.
Não vou, a este respeito, repetir o que, muito a propósito, no Público, João Miguel Tavares (A minha carta para Greta Thunberg) e Susana Peralta (Greta, pelo planeta, mostra-nos as contas!) e, ainda, noutro tom, Vítor Serpa (Greta e os pequenos amestrados), em A Alterações climáticas: culpa “só” dos outros? Bola, entre outros, escreveram, mas vou centrar-me nas palavras de Greta em direto, de Madrid, via televisão: “Os líderes têm de se entender connosco”, mas, logo a seguir: “Agora somos nós que somos os líderes!” e, ainda a seguir: “Eles têm que assumir as responsabilidades sobre o que têm de fazer nos cargos que ocupam!”.
Queres maior inconsistência? Se “nós” (e quem são os “nós”?) somos os líderes, quem são os “eles” que são responsáveis? Então “nós” seremos líderes “irresponsáveis”?
É bom que os jovens acordem e ponham em causa o que se tem feito, e os Governos (e sobretudo os poderosos “lobbys” económico-financeiros) são altamente responsáveis por terem, já vão 50 anos, ignorado ou até “apagado”, os sucessivos avisos, é bom que se saiba que, pelo menos nos regimes democráticos, fomos “nós” que lá os pusemos a “eles” ou, quando nos abstivemos, em muitos casos, a “maioria”, quedámo-nos na tal indiferença!
Teremos direito de nos queixar? E nós, cada um de nós, o que tem feito? Não tem contribuído pelas ações e decisões do dia a dia para este resultado? Temos de lutar para que os líderes acabem com os atropelos e a cegueira das decisões, mas muito do que está por fazer, o tal “grão” que cada um pode semear, está nas nossas mãos, na nossa cabeça e, sobretudo, no nosso “coração”. É essa a viragem que o Natal reclama! Até sempre,