Opinião

Anatomia de tudo o que é (in)visível

16 jun 2023 12:37

A Serendipidade é considerada como uma forma peculiar de criatividade, ou uma técnica de desenvolvimento do potencial produtivo do indivíduo

A Serendipidade (S) é o acto ou capacidade de descobrir coisas favoráveis por mero acaso, sem previsão. É a circunstância interessante ou agradável que ocorre de uma casualidade feliz ou eventualidade.

Pode referir-se à capacidade de o sujeito reconhecer que descobriu algo relevante, mesmo não estando relacionado com o que procurava. As S são frequentes na história da ciência.

Há também casos do fenómeno em obras literárias, quando um autor escreve sobre o que imaginou e não é conhecido na época, e depois se confirma, no futuro, tal como o escritor o definiu, com os mesmos detalhes. Não pode ser confundido com antecipação ou «ficção científica», onde se exaltam invenções genéricas, face ao que a opinião pública admite, que ocorrerá, num determinado momento da história.

O termo deriva do inglês serendipity, neologismo cunhado por H. Walpole (1754), a partir do conto tradicional persa chamado “Os Três Príncipes de Serendip”, no qual os protagonistas - príncipes da ilha Serendip - antigo nome persa para a ilha de Ceilão, (Sri Lanka), no curso da narrativa, resolvem os seus problemas por via de incríveis coincidências.

Actualmente, é considerada como uma forma peculiar de criatividade, ou uma técnica de desenvolvimento do potencial produtivo do indivíduo, que alia perseverança, inteligência e sentido de observação.

É aplicável ao processo narrativo e na terapia psicológica, quando se procura que o sujeito leia e se identifique com um determinado recurso biblioterapêutico, que se revele complementar e ‘amparo’ na promoção do seu equilíbrio. “O acaso só favorece a mente preparada”, afirmou Louis Pasteur.

Ao invés de significarem aleatoriedade, as mudanças que emergem da (S) têm uma característica importante: foram criadas por indivíduos capazes de “ver pontes onde outros viam buracos” e ligar eventos de modo criativo com base na percepção de um vínculo singular.

A sorte é fruto do acaso; a (S) é proveniente da astúcia. Autores bem-sucedidos conseguem observar os resultados de forma atenta, com disposição para analisar fenómenos sob as mais distintas perspectivas.

Questionam-se, divergindo sobre pressupostos que não encaixam nas observações empíricas confluentes. Reconhecem e apreciam o inesperado, assumindo posturas de discussão, desviantes dos factos sustentados empiricamente. "Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se me revela" (R. Einstein).