Opinião

Antes e depois

11 dez 2021 15:45

2022 será o ano do “depois”

A relatividade do tempo é um conceito que ultrapassa o postulado por Einstein há mais de 100 anos.

Sabemos, instintivamente, que há momentos que nos parecem durar uma eternidade e outros que parecem passar num piscar de olhos.

É, aliás, por isso que cinco minutos na fila da caixa do supermercado é imenso tempo, ao passo que cinco minutos com a pessoa amada nos parece insultuosamente pouco.

Além disso, a perceção do tempo é muito influenciada pelo momento presente: não só é difícil recordar o passado, como o ser humano tem muita dificuldade em projetar o futuro sem que ele seja semelhante ao presente.

Olhando para trás, temos já dificuldade em lembrar-nos que o ano 2021 começou com a “variante alfa” (à época chamada variante inglesa) que causou caos nos hospitais, milhares de mortes e um confinamento – tudo porque os portugueses não seguiram o conselho de fazer compotas e trocá-las no vão das escadas.

Parecia, nessa época, que a Covid era inultrapassável e que um apocalipse estava iminente.

Nem a vinda da vacina para os meses seguintes parecia acalmar os medos, numa altura em que morriam centenas de pessoas por dia.

Em meados do ano (Maio/Junho) novo sobressalto com uma variante: dessa vez era a variante delta, que podia comprometer a eficácia da vacinação. Tudo longínquas e difusas memórias.

Foi também em Janeiro de 2021 que houve uma tentativa de golpe de estado nos EUA, com cobertura em direto nas televisões mundiais.

Após esse triste acontecimento, saiu de cena Donald Trump. Parece-nos agora uma memória distante o tempo em que todos os telejornais incluíam a expressão “um tweet do presidente americano” – o que ilustra como nos habituámos rapidamente a tempos mais higiénicos.

O sucessor de Trump devolveu os EUA à normalidade – nomeadamente na atabalhoada retirada do Afeganistão em Agosto.

Menos de 4 meses volvidos, a indignação contra os talibans e as inflamadas indignações deram lugar a… esquecimento.

Portanto, chegados a Dezembro de 2021, o que nos preocupa?

Para além da substancial inflação, que torna os presentes de Natal mais caros, a falta de mão-de-obra, virtude da procura em setores como a construção civil.

Ou seja, parece-nos que é inevitável que o próximo ano traga mais e melhores empregos, e valorização de imobiliário.

Já na pandemia, a variante ómicron – que nos tornou especialistas em alfabeto grego – deixa-nos alguma incerteza (mas não necessariamente apreensão) sobre o seu potencial perigo.

No entanto, o meu prognóstico para 2022 é substancialmente diferente.

A inflação deverá descer, a bolha do imobiliário deve rebentar e uma real crise económica deverá atingir-nos.

Por outro lado, é muito provável que novas vacinas, novos medicamentos e a natural evolução da doença tornem a Covid uma doença menos preocupante.

Voltaremos, portanto, aos grandes problemas que ficaram em standby durante a pandemia.

Voltaremos, também, com tranquilidade, aos pequenos e grandes hábitos que hoje julgamos impossíveis de retomar.

2022 será o ano do “depois”.