Opinião
Ao deus Dará
Uma pontada de anacronismo crónico
Devido aos nossos afamados debates legislativos vi-me a par com uma coisa antiga que parece ter chegado para modernizar a nossa discussão política, anacronismo, de seu nome. Traduzido da internet para um português da rua, o anacronismo é algo que não bate certo com o tempo em que está, é uma falha na cronologia, é algo saído de um DeLorean a fumegar, vá.
Tipo nave espacial acoplada a uma nau dos descobrimentos, ou uma bazuca distribuída pelos sítios certos, os maridos a matar as mulheres, os tractores a limparem velhinhos, as pessoas a não entenderem o que lêem, os lideres a serem um exemplo, ou os putos a não saberem subir a uma árvore.
Não há como escapar, os tempos estão um bocadinho para o anacrónico e isso sentiu-se em todo o debate aos debates que vão definir o futuro do nosso presente.
Como candidatos a chefes deste estaminé, que ora está na cauda, ora está vanguarda, temos de tudo um pouco.E tudo um pouco de esguelha em relação ao tempo em que os portugueses vivem no seu dia-a-dia. A ver:
Há um senhor meio xoninhas que parece ter lido em demasia para ter ginga suficiente para dançar a música moderna que se dança hoje em dia. Sabe contar muito bem até nove mas não consegue explicar como é que vai pagar o futuro aos mandriões que só querem é andar por aí a viver uma vida boa sem trabalhar. É estranho mas parece falar demasiado bem para conseguir chegar a ganhar um rendimento básico incondicional.
Temos um outro menino que é adepto do sexo de luz apagada e só para procriar, que esconde uma cruz na camisa aberta e arrelia-se, tem a honra e o peito de chamar os burros pelos nomes mas, infelizmente, parece ver o seu tempo chegar ao fim ali ao virar da esquina, porque o tempo que está ao virar da esquina é um tempo pouco católico que gosta de fazer o que bem lhe apetece.
Temos também uma senhora a ser demasiado moderna e a querer acabar com tudo o que é interior e tradição, principalmente a arte de matar caracóis em água a ferver e orégãos para petisco nas tainadas de verão. Imaginem que é capaz de ir ao extremo de querer agasalhar com camisolas de lã sem lactose as cabras que dormem ao relento. Infelizmente não parece ser tempo de tratarmos tão bem esses quando os animais que conseguem realmente fazer malha passam frio nas suas casas.
Por falar em animais, também temos um individuo que possui uma coelha de seu nome Acácia e se auto intitula confidente de Deus. Bom, era sabido que Deus tem coisas que não lembram ao Diabo mas andar por aí a decepar punhos e fazer piretes a desvalidos que se apresentem de telemóvel na mão parece ser uma atitude do passado que não tem futuro nenhum nos dias de hoje. Sete anos de prisão perpétua e ainda era pouco.
Há o sujeito bem-falante de cabelo e prosa que acha que o tempo meteorológico não sofreu assim tantas alterações que um mercado livre não resolva. A ideia é crescermos todos a criar muita riqueza, vai é ser caro para alguns, os que não tiverem carteira para pagar o custo da viagem até ao futuro. Tresanda a muitas horas fora do horário, o trabalho não dá dinheiro e se não não houver desfavorecidos como é que vamos perceber quem é privilegiado?
Também temos por cá um senhor que está cá desde sempre mas que devido a greve na carótida não se pôde apresentar como presente no presente. A luta continuará em canal aberto só que desta vez será com alguém que seja mais de agora. Enquanto o proletariado não tiver capital para explorar um outro proletariado ainda mais proletariado... estará tudo bem.
Há também um bloco de pessoas esquerdalhas que só querem é ganzas e dar tudo aos gajos que estacionam mercedes à porta de bairros sociais, esse pessoal é representado por uma senhora que, por estes dias, aburguesou a reivindicação através de mises que faz na Isabel Queiroz do Vale com o dinheiro do IMI que não pagou. Ainda se tivesse exibido uma fotocópia do papa Francisco em modo Guevara Caviar para cativar os meninos ricos que pintam os lábios de vermelho e andam para aí a mudar de sexo dia sim, dia não, em casas de banho unissexo.
Depois temos os dois cabecilhas que breve formarão um casal de conveniência, coisa, que todos sabemos, é pouco compatível com a modernidade actual vigente. Pelo tempo de antena valem mais um bocadinho que os outros todos e isso também é inadmissível por ser uma clara descriminação percentual da carga fiscal na taxa única de todos.
O que perderá, dá ideia de ser sério, do bem, bonacheirão e resiliente q.b. Um homem que sabe coisas mas não as consegue transmitir. Ele dá razão, ele tem razão, ele explica, explica-se e parece ainda pedir, como presente, não ganhar. No fundo saberá que ainda não é tempo de estar à frente de tempos difíceis sozinho. Não defende salário minimo e também não defende salário máximo, é daqueles que não dá para se gostar muito muito mas também não dá para não gostar nada nada.
Depois temos a versão indiana da Rute Rita a apresentar sorridente, num programa de televisão, um produto que ninguém quis comprar no passado, como se agora fosse feito de baba de caracol da cripto moeda que nos elevará até a um blockchain paradisíaco. Esse senhor está galifão porque é um homem que vive num tempo só dele, num rácio só dele, num gráfico só dele e que culpa, anacronicamente, os outros, por ainda não ter atingido a tempo o tempo da modernidade.
Sim, a actualidade está fora do tempo. Todos têm um tempo, o seu tempo e o tempo de cada um não tem espaço para o tempo de todos.
Todos este desfasamento anacrónico se sente também no debate que se realiza a seguir aos debates, onde aparecem os adeptos clubísticos de esquerdas e direitas, a achar e entender. Aí todos ganham, todos perdem, todos são esfregonas no chão e todos são mulheres da limpeza, é muito conforme o lado em que estás a apreciar o chiqueiro.
Toda esta rapaziada consegue adivinhar o que se passa em casa de cada um de nós, sabe o que é cada um de nós entende, quer e precisa, e ainda percepciona as vontades de um país inteiro para os tempos que correm. Vestidos de certeza, altivez e gravata, sentados à frente de um cenário chroma key, quer debatentes, quer os que debatem os debates, todos vivem num lugar temporal lá deles a que se chama capital. Longe dos que fazem por se enquadrar nos tempos que vivem, que querem o melhor futuro possivel para aos seus, que querem viver condignamente o presente, respeitando a Natureza o Homem e ainda encaixar nisto tudo sem parecerem uns anacrónicos meio passados a tentar perceber em quem votar.