Opinião

Artes Visuais | Fome-Gula na Galeria Quattro

11 nov 2023 11:57

Áreas coloridas gritam pela nossa atenção, primeiro por causa do contraste das texturas e da cor, e segundo porque é ali que percebemos a atenção que o autor tem ao detalhe

Filipe Faleiro (Lisboa. 1992) é um ceramista das Caldas da Raínha que se apresenta como uma espécie de ave rara. Iniciou o ensino superior em engenharia informática, mas não o completou. Descobriu, num centro de formação reconhecidíssimo das Caldas da Rainha, o Cencal, a sua veia de ceramista e tem vindo a desenvolvê-la desde então. Trabalha em part-time na Staples, para ajudar a sustentar o atelier, que fundou em 2018, sítio onde passa a maioria do seu tempo, acompanhado do seu simpático cachorro Artur. Fui à inauguração da sua exposição Fome-Gula na sempre muito convidativa Galeria Quattro e fiquei impressionado. Vi peças que se mostram em apenas 180º, vi peças que se apresentam em 360º no centro das salas, e caminhei à sua volta, foi-me apresentado o autor e falei com ele um pouco.

A pessoa que me acompanhava, disse-me que parecia que estava num filme do Woody Allen. Ri-me, foi bem constatado. Realmente a Galeria Quattro, agora com as suas belíssimas paredes cor de laranja, parece pertencer a um universo sem paralelo em Leiria, que lembra a NY de Woody Allen. É um excelente sítio para mostrar os onze trabalhos feitos em grés, que Filipe Faleiro seleccionou.

A simbiose entre a galeria e o trabalho do autor é evidente assim que se entra. As peças que integram Fome-Gula, foram esculpidas com delicadeza e a maioria delas têm zonas onde além de esculpir, o autor pinta e vidra com engobes vitrificáveis. Estas áreas coloridas gritam pela nossa atenção, primeiro por causa do contraste das texturas e da cor, e segundo porque é ali que percebemos a atenção que o autor tem ao detalhe.

O estilo em que as peças foram realizadas, parece-me a mesclagem de duas linguagens estéticas: a da street art e a da arte africana. Tem um ar rústico e tribal, e um pouco de street wear style nos promenores tipo sapatilhas ou gorros. As duas geralmente rivalizam, mas aqui convivem, curiosamente.

Por isso já sabem, quem estiver curioso e quiser ver ao vivo uma amálgama afro-street em peças de cerâmica, passe pelos Capuchos antes do dia 22 de Novembro.