Opinião

As fardas nada valem sem as pessoas - Editorial

17 dez 2015 00:00

As polícias lidam com situações limite, de grande perigo, onde um pormenor é, muitas vezes, a diferença entre a vida e a morte. Já para não falar nas muitas solicitações que hão-de ter para fechar os olhos aqui e acolá a troco de alguns euros.

Este ano, entre elementos da PSP, da GNR e da Guarda Prisional foram 18 os suicídios tornados públicos, um número absolutamente assustador e revelador de que algo de grave se passa no seio dessas instituições. A preocupação aumenta se pensarmos que por cada agente de autoridade que decide pôr fim à vida, haverá dezenas em idêntica situação de fragilidade ou de desespero. Muitos serão, pois, os que não chegam à decisão extrema de abandonarem este Mundo, mas que viverão angustiados e emocionalmente instáveis.

Poder-se-á, naturalmente, dizer que as policias não têm o exclusivo de problemas no trabalho ou nas suas vidas económico-familiares. É verdade. Infelizmente, os últimos anos têm sido de enormes dificuldades financeiras para a maioria das famílias, introduzindo instabilidade em muitas delas, e é rara a profissão em que a pressão, os conflitos e o volume de trabalho não tenham aumentado com a crise. A diferença, que não será de desprezar, é que as forças de autoridade andam diariamente armadas e delas se espera que tenham capacidade para manter a ordem pública. Ou seja, sem menosprezo por qualquer profissão, a verdade é que um mau desempenho tem consequências mais dramáticas numas do que noutras.

As polícias lidam com situações limite, de grande perigo, onde um pormenor é, muitas vezes, a diferença entre a vida e a morte. Já para não falar nas muitas solicitações que hão-de ter para fechar os olhos aqui e acolá a troco de alguns euros. Ou na tentação de darem um passo ao lado e fazer igual aos que a sua profissão manda prender, ganhando num simples negócio ilícito o que demoram anos a receber com o seu trabalho.

No meio em que se movimentam, com a pressão que enfrentam e os riscos que correm, os agentes de autoridade deveriam estar emocionalmente preparados e economicamente confortáveis para não vacilarem perante pressões, tentações e situações de tensão. Por baixo das fardas estão pessoas. Por mais que os princípios que orientam as instituições em causa passem uma imagem de imunidade a qualquer tipo de desvio, a verdade é que, muitas vezes, a natureza humana atraiçoa as melhores intenções e as personalidades mais fortes. Já diz o ditado que “o seguro morreu de velho”, pelo que quem anda diariamente na rua a zelar pela ordem pública deveria ter apoio e condições que diminuíssem a probabilidade de queda em situações de instabilidade emocional e de insatisfação profunda. No entanto, lendo a reportagem que o Jornal de Leiria publica nesta edição, percebe-se que isso está longe de acontecer. Que o caminho para os problemas é, actualmente, largo e que só por acaso é que não há mais situações tristes como as que vamos tendo contacto pelas notícias.

Mal vai um País quando a autoridade está doente. Mal vai um País quando perde a confiança em quem tem a missão de manter a ordem.
 

*Director do JORNAL DE LEIRIA