Opinião

Petróleo não mata a sede

14 dez 2017 00:00

É verdade que há malucos para tudo, mas felizmente que a maioria prefere ter água limpa para matar a sede do que a língua colada com crude ao céu da boca, mesmo que com os bolsos cheios de dinheiro.

Num tempo em que as alterações climáticas trazem períodos de seca cada vez mais severos, com muitos especialistas a anteciparem escassez de água potável e a defenderem a necessidade de repensar o seu uso, nomeadamente na agricultura, é de malucos colocar-se, sequer, a hipótese de pôr em risco os lençóis freáticos existentes para explorar petróleo ou gás.

No entanto, como bem se sabe, o que há mais por esse mundo fora são pessoas que devem pouco à sanidade mental em lugares de decisão, incluindo à frente de países, pelo que não é de espantar que o que para uns é óbvio, como é o caso de preservar os recursos essenciais à vida, para outros não passe de uma mania dos ambientalistas, esses inimigos do desenvolvimento...

Não surpreende, portanto, que ainda haja quem pense que os problemas do País se resolverão encontrando petróleo ou gás, e surjam contratos semi-desconhecidos para a sua prospecção e exploração, incluindo em zonas densamente habitadas, como é o caso da faixa entre a Figueira da Foz e Caldas da Rainha, utilizando métodos, no mínimo, questionáveis.

É fundamental que o assunto seja debatido publicamente e que se saiba bem o que está em causa, pois certamente que o grosso das pessoas não estará disposta a trocar água por petróleo, mesmo que o ouro negro ainda valha mais.

É verdade, como referido atrás, que há malucos para tudo, mas felizmente que a maioria prefere ter água limpa para matar a sede do que a língua colada com crude ao céu da boca, mesmo que com os bolsos cheios de dinheiro.

Se dúvidas houvesse sobre a crise profunda por que passa o PSD de Leiria, estas ficaram desfeitas com a eleição concelhia do passado sábado. Numa década, num dos concelhos mais fiéis à cor laranja, que disputava com Viseu o epíteto de ‘Cavaquistão’, os sociais-democratas deixaram-se cair num buraco que parece não ter fundo.

Após perderam a Câmara para Raul Castro e o PS, ainda no tempo de José António Silva e com Damasceno como cabeça-de-lista, o PSD obteve duas humilhantes derrotas que possibilitaram a Castro governar o concelho em maioria. Com tamanhos desaires, seria de pensar que o partido teria a capacidade de olhar para dentro, analisar o que está mal e de se unir à volta de uma equipa que apresentasse novos rostos, nomes fortes e uma estratégia de mudança.

No fundo, pessoas capazes de fazer a revolução interna que já todos perceberam ser urgente. No entanto, sem que tivessem aparecido grandes soluções, o PSD da capital de distrito terá mais do mesmo, que é como quem diz, a mesma liderança que levou o partido a dois resultados eleitorais de todo impensáveis há alguns anos.

Ao mesmo tempo que os leiriense receberam a boa notícia de que as obras do jardim da Almuinha Grande foram adjudicadas e que, se forem cumpridos os prazos, na Primavera de 2019 já se poderá apanhar um pouco de sol deitado na relva, vai-se assistindo ao nascimento de mais um atentado urbanístico na cidade.

Falamos, obviamente, dos cinco andares de cimento e betão que estão a ser construídos no sopé do Castelo, virados para o centro histórico, ao lado do miradouro da avenida Ernesto Korrodi, que verá amputado um dos ângulos.

O facto de estar tudo dentro da legalidade, além de estranho, não atenua em nada o sentimento de indignação de muitos.

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