Opinião

Auriol Dongmo

7 ago 2021 15:45

Esta Auriol, mulher, pegou no seu poder feminino e sem precisar de um homem patriarca ou marido, definiu o seu caminho

Se eu tivesse a responsabilidade de ser professora da disciplina de Cidadania planearia, logo no início do próximo ano letivo, uma primeira unidade didática a que chamaria Auriol Dongmo, a atual campeã europeia no lançamento do peso e que, ficando entre as melhores do mundo, nessa modalidade, conseguiu um diploma nos Jogos Olímpicos que estão a decorrer!

É que a considero ser, pelo que leio na sua biografia, uma inspiração demasiado valiosa para ser ignorada, em contexto educativo.

Assim sendo, imagino-me a pegar em diferentes aspetos da sua vida como instrumentos para auxiliar, num grupo turma, a discussão de temas que, pela sua relevância social, obrigam a que cada um faça as reflexões necessárias à produção de opiniões fundamentadas.

Sendo Auriol uma mulher emigrante camaronesa, agora com nacionalidade portuguesa, certamente que à baila se imporia logo uma reflexão sobre as diferentes formas de acolher emigrantes.

De entre os modelos de exclusão, separação, de integração ou de inclusão, qual o que cada um defende e porquê?

Uma tomada de decisão nesta área, certamente nos obrigaria a revisitar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o conceito de Dignidade Humana, mas também, por exemplo, os dados do Censos 2021 (através do quais ficámos a saber que Portugal tem menos duzentos e catorze mil residentes do que em 2011 e que o saldo migratório positivo não chegou para compensar esta perda) e como tal coisa se relaciona com a sobrevivência de um Portugal mais forte.

Por outro lado, esta Auriol, mulher, pegou no seu poder feminino e sem precisar de um homem patriarca ou marido, definiu o seu caminho.

Nesta altura, iriamos consultar a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, para refletirmos sobre se é ou não legítimo pormo-nos, ainda nos dias de hoje, na luta pela plena igualdade das mulheres em relação aos homens.

Depois surge-nos uma Auriol que é mãe e que diz do seu filho ser ele a sua medalha de diamante.

Aqui valeria a pena refletirmos sobre o valor indiscutível para a sociedade dos diferentes tipos de família: das só com uma mãe ou só com um pai, das que se formam com dois pais ou duas mães, em suma do poder absoluto e reprodutor do amor, venha ele de que família vier, quando gerado ao serviço das crianças!

Mas Auriol permite-nos muito mais! Diz-nos que é católica, tem uma religião.

Parece que tal circunstância, todos os dias, a fortalece na construção da sua vida e sim é um facto, a religião pode direcionar uma pessoa para se tornar mais honesta, solidária, justa e geradora de amor, mas como, infelizmente, o contrário também é verdadeiro: também tem servido para justificar fanatismos e intolerâncias inadmissíveis, crimes hediondos contra a Humanidade, guerras horríveis e nas pessoas todas, com ou sem religião, sofrimentos inimagináveis, tornar-se-ia oportuno aprender mais sobre as religiões. Serão elas as causadoras de tantos males?

Uma reflexão conjunta sobre o valor que é o trabalho seria a chave de ouro com que encerraríamos esta unidade didática.

É que Auriol podia ser ateia, podia não ter um filho, mas sem horas e horas dedicadas ao trabalho nós nem a conheceríamos, para mim ela não seria uma inspiração…

 

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990