Opinião
Bem para além de Trump...
Os sistemas económicos e políticos cultivam a sua própria versão da verdade de acordo com as pressões pecuniárias e as modas políticas da época
Meu Caro Zé,
“(Na minha vida) aprendi que para ter razão e ser útil, temos de aceitar a contínua divergência entre as crenças aprovadas - o que outros chamam sabedoria convencional – e a realidade...
Contudo, também aprendi algo que parece surpreendente: no fim é a realidade que conta... (É que)... os sistemas económicos e políticos cultivam a sua própria versão da verdade de acordo com as pressões pecuniárias e as modas políticas da época... (embora) esta versão não tenha necessariamente relação com o que ocorre na realidade... A maioria das pessoas prefere acreditar naquilo em que lhes convém acreditar.” Este discurso entrecortado não é meu, mas uma adaptação minha de uma obra de 2004 (“A economia da fraude inocente – A verdade do nosso tempo”) do, tantas vezes ignorado (porque nunca se “vendeu” ao sistema), economista americano John Kenneth Galbraith, falecido há pouco anos com 100 anos de idade.
Esta citação ocorreu-me perante o “fenómeno Trump”, como alegada expressão do “populismo” que, qualquer que seja o seu tipo, tem condições para se aliar com o “pensamento dominante” (será?) que emerge nos “media” e na política a que já se chama “post-truth” (pós-verdade), caraterizada essencialmente por os factos reais serem substituídos por “factos” sentidos ou criados a partir de sofisticados tratamentos de dados e estatísticas pelos chamados peritos. Como refere William Davies (“The age of Post- Truth Politics”) no “New York Times” (24-08-2016): “se quer realmente encontrar um perito para apoiar um facto e tem dinheiro suficiente ou influência política, provavelmente consegui-lo-á” (tradução minha).
*Professor universitário
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