Opinião

Buraco fundo

5 out 2017 00:00

Como o JORNAL DE LEIRIA antecipou na sondagem publicada na semana passada, Fernando Costa foi esmagado por Raul Castro, alinhando os seus resultados com a hetacombe que se abateu sob o PSD em termos nacionais.

No entanto, se de longe se poderá ler estes resultados como apenas mais um numa noite negra para os sociais-democratas, quem está mais próximo sabe que são, principalmente, a consequência de um processo de desmoronamento do partido em Leiria, que vive em guerra interna há mais de uma década.

Como é sabido, Raul Castro e o PS conquistaram a Câmara de Leiria com forte apoio de um certo PSD e, de lá para cá, a casa laranja nunca encontrou forma de se unir, eternizando as pequenas lutas de interesse próprio, de quintinha contra quintinha, continuando a fragilizar-se até à anedota que é hoje.

Fernando Costa é um dos derrotados destas eleições, sem dúvida. Quanto mais não seja pelo muito que lutou pelo lugar de candidato, pelo qual Feliciano Barreira Duarte também se bateu fortemente, tendo ambos passado uma mensagem implícita de que acreditavam ser possível destronar Castro.

No entanto, o principal responsável desta derrota não é Costa, mas sim a estrutura local do PSD e, principalmente, o seu presidente, que em simultâneo acumulava o lugar cimeiro da oposição na Câmara.

Ao longo de quatro anos, após ter alcançado a pior votação de sempre do PSD em Leiria, Álvaro Madureira quase não se fez sentir, deixando o PS governar a seu bel-prazer, sem qualquer tipo de oposição, além de não ter dado a conhecer qualquer ideia estruturante para o concelho.

Incrivelmente, esse passado recente não foi suficiente para afastar Álvaro Madureira da lista candidata à Câmara, numa decisão que apenas veio comprovar o quanto o PSD de Leiria está num buraco fundo e que deu logo indicações do que poderia ser o resultado nas eleições. Ideia, aliás, reforçada pelo decorrer da campanha, na qual foi notada a ausência da maioria das principais figuras locais do partido e da própria JSD.

Fernando Costa, de quem era esperado que tivesse melhor análise sobre o que iria encontrar, optou, no entanto, por descarregar os seus maus fígados sobre a imprensa local, entre a qual o JORNAL DE LEIRIA, acusando-a de ser a responsável pela sua derrota. Declarações que não foram, apesar de tudo, surpreendentes, pois a poucos dias das eleições já dava sinais de desespero e apontava baterias contra este jornal, pondo em causa a sua imparcialidade e acusando-o de querer condicionar o voto dos leirienses.

São declarações que, como é óbvio, repudiamos, mas que acabam por espelhar o quanto Fernando Costa está desactualizado, continuando a recorrer à acusação e ao confronto truculento para fazer política.

Com todo o seu voluntarismo nem se apercebe que as pessoas já não se identificam com essa forma de estar e de fazer, acabando os resultados das eleições, e não só em Leiria, por reflectir isso. Resta ao PSD começar a preparar-se para daqui a quatro anos, tendo já toda a gente percebido que primeiro que tudo há que fazer uma grande limpeza.

*Director do JORNAL DE LEIRIA