Opinião

Casa

9 ago 2021 15:45

Casa Comum que nos dá, agradavelmente, um pouco de clareza e coerência no emaranhado de propostas da arte contemporânea

Há no Banco das Artes, até ao dia 11 de Agosto, uma exposição de Hirondino Pedro e Sílvia Patrício intitulada Casa Comum que é, simultaneamente, um exercício de fruição estética, muito estimulante, de reflexão sobre a arte contemporânea, e uma proposta tentadora de descodificação de alguns dos seus desafios mais interessantes.

Não tenho de todo a ideia de que devemos enfrentar os produtos artísticos da contemporaneidade como um mergulho sem rede numa espécie de sopa de ervilhas, onde cada um encontra os seus pontos de orientação, ou não, num percurso para lado nenhum.

Esta visão das coisas, muito dependente do equipamento de mergulho que se possui, trabalha sobre a criação de um mundo tribalista desenhado no vazio onde o grande público não serve para nada porque não percebe realmente nada e ninguém se importa com isso.

Hirondino Pedro e Sílvia Patrício não pensam assim, porque se pensassem assim não tinham construído esta Casa Comum que nos dá, agradavelmente, um pouco de clareza e coerência no emaranhado de propostas da arte contemporânea, ao fazer viver no espaço comum dois pretextos e duas atitudes criativas que marcam toda a sua paisagem.

Ali convivem harmonicamente a rudeza e imediatismo do confronto com os materiais (os ready-made, as montagens com perecíveis…), a sua dignificação em si (a tinta escorre? pois, que escorra…), declarações de apelo à intervenção (os cartazes) e um abstracionismo reflectido do Hirondino com um vergar minucioso da matéria, um domínio virtuoso do pormenor, uma tentação trabalhada do figurativo e uma demonstração de domínio senhorial sobre o discurso artístico da Sílvia.

Na verdade, estas duas forma de se exprimir são, essencialmente, dois modos de se posicionar, hoje, perante a criação em todos os domínios e suportes.

O que esta exposição prova é que longe de se antagonizarem, como propõem grande parte dos mergulhadores de fundo em sopa de ervilhas, com óculos, barbatanas e botijas, elas, quando trabalham sobre a mesma ideia, se complementam fazendo, a seu modo, todas as partes da Casa Comum.

Digo eu, que nem fato de banho tenho, quanto mais. Mas, mergulho tal e qual.