Opinião
Casa de ferreiro…
É claro que é giro, ter algumas recordações, ter fotografias marcantes de alguns passos da (nossa) vida deles. Ver vídeos antigos e rir com saudades daquela voz de bebé que agora está completamente diferente, mas com a mesma carinha fofinha...
Estão a ver aqueles turistas que vêm lá dos orientes longínquos (Japão? China? Vietname? Sei lá eu, daqueles lados…) para a Europa, passear, e que em vez de disfrutarem dos momentos e guardarem as memórias e sensações dentro de si, passam o tempo todo preocupados em fotografar e filmar tudo, para mais tarde ver em casa? Há pais assim. Têm tudo documentado: a primeira vez que o bebé sorriu, pumba! Uma fotografia! A primeira vez que o bebé comeu sopa: toma lá! Vinte fotografias!
A primeira vez que o bebé ensaiou uma palavra: espera, espera, não digas ainda que o pai/mãe tem de ir ali buscar a máquina de filmar! Os primeiros passos?! Espera filhote, senta aí um bocadinho que se eu não conseguir filmar é como se não tivesse acontecido! Pelo menos deixa-me filmar com o telemóvel… esse objecto do demónio que está sempre à mão e que faz com que a tentação de filmar e fotografar tudo seja ainda maior!! Para quê, pergunto eu?! Para espetar secas aos amigos que nem sequer têm filhos e que não podiam estar mais desinteressados?! Para pôr nas redes sociais (blhérc, nem me apetece desenvolver mais este assunto, já sabem que sou contra…)?! Para mostrar aos miúdos daqui a uns tempos e envergonhá-los porque estavam cheios de papa nas bochechas?!
É claro que é giro, ter algumas recordações, ter fotografias marcantes de alguns passos da (nossa) vida deles. Ver vídeos antigos e rir com saudades daquela voz de bebé que agora está completamente diferente, mas com a mesma carinha fofinha que só os pais conseguem reconhecer para sempre nos filhos (até quando já têm barba…).
E eles um dia mais tarde (muuuuuuuuuuuuito mais tarde…) também vão, eventualmente, gostar de ver. Mas não é preciso ter TODOS os momentos documentados, datados, arquivados cronologicamente e por ordem alfabética, por forma a comemorar anualmente tudo o que os cachopos passaram a conseguir fazer no dia tal à hora tal do ano tal e tal e tal. Para que é que isso interessa? Interessa é viver esses momentos com toda a intensidade e atenção, guardar as memórias bem guardadas para lhes contar as estórias do dia em que eles disseram “papá” mas afinal só queriam dizer “papa”, do dia em que caíram da bicicleta e o pai/mãe foram a correr ajudar (sem ter de poisar a máquina fotográfica antes).
“Ah e tal mas o pai deles é fotógrafo, deves ter montes de fotografias dos miúdos…” Nem por isso, tenho umas boas, mas nem são assim tantas. É como os concertos, ele fotografa porque está a trabalhar e não consegue “ouvir” como deve ser (o que às vezes até pode ser uma benção…). Se formos mesmo ver/ouvir um concerto, deixa a máquina em casa. Ossos do ofício.