Opinião

Contra os bretões, marchar, marchar!

18 jun 2021 15:30

Ansiosamente espero que Portugal seja campeão europeu. E que dê de novo uma coça a esses presunçosos dos alemães, ingleses e franceses!

Eu gosto de ironizar com os meus amigos que são “perdidos” pelo futebol. De diferentes áreas profissionais, com diferentes habilitações.

Mas a verdade é que o futebol equaliza: paixões, desilusões, opiniões, até a falta de sentido crítico, a linguagem e o insulto aos árbitros.

Quando alguns me dizem, com um orgulho inaudito, por exemplo, “sou sócio do clube X desde os quatro anos”, eu respondo-lhes, a brincar, claro, que se vivessem na Alemanha do Hitler ou na Rússia do Estaline, também seriam orgulhosamente da Juventude Hitleriana e da Juventude Comunista desde essa mesma tenra idade.

Acho que a última vez que vi um jogo de futebol ao vivo foi um derby lisboeta (é assim que se diz?) e há mais de 10 anos.

Fiquei desiludidíssimo: as claques nem viam o jogo, entretidas que estavam na fruição do barulho descomunal que faziam e depois, habituado a ver futebol na televisão, nem compreendi tácticas, nem movimentações, nem conseguia saber quem eram os jogadores que por ali corriam.

E o que é mais grave: foi golo e só me apercebi depois, sem o conseguir antever – e por momentos esperei ansiosamente que pudesse ser repetido, tal como o replay me habituara na televisão.

Foi uma experiência traumática, que baixou a minha autoestima e me convenceu que o futebol é só para alguns.

Mas o que mais me custou, nesse jogo, foi sentir coação e medo – sobretudo antes do jogo.

Alguns adeptos do clube da casa, com ar de capangas de serviço, farejavam na sala de espera e nos corredores adeptos do clube adversário que, de alguma maneira, alardeassem a adesão ao clube rival.

Vi que a coisa era séria quando uma jovem do nosso grupo, também na inocência de quem não assiste futebol ao vivo, ostentando um cachecol do clube contrário foi ameaçada duas vezes de agressão, logo ali na sala.

Na realidade, tenho de ser sincero: o que sempre me constrange é qualquer filiação cega – a qualquer ideal, ou ideologia, ou religião, ou desporto.

Este tipo de cegueira é sempre destrutiva. Porque é irracional e raramente admite contestação ou a posição crítica, dialogante e construtiva.

É claro que eu tenho as minhas defesas: sou sempre simpatizante da Académica de Coimbra. E ninguém me contesta. É um clube consensual por natureza (pudera, não faz qualquer mossa!).

Não deixa de ser uma homenagem ao meu pai, estudante em Coimbra nos anos 40, e naturalmente adepto da Académica.

Mas até isso tenho de gerir bem. Em frente ao meu sogro, calo-me por respeito.

Natural e residente até há cinco anos em Coimbra, sendo adepto, simpatizante e até dirigente do União de Coimbra, não me atrevo a confrontá-lo, mesmo sabendo que o União de Coimbra já não existe.

Claro: nos jogos da equipa nacional, nas grandes competições, não fico indiferente.

Vibro, dou pulos, grito quando marcamos golo e ganhamos. Mas essa é a paixão nacionalista. Que só se explica em parte, dá que pensar e também tem o que se lhe diga…

Ansiosamente espero que Portugal seja campeão europeu. E que dê de novo uma coça a esses presunçosos dos alemães, ingleses e franceses!

Ah, já me esquecia: Viva Portugal!